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Evolução econômica de Uberaba - Parte V

Já a perda das transações com Goiás fez-se pela ação do comércio de Uberlândia (então Uberabinha), privilegiada

Guido Bilharinho
Publicado em 27/01/2015 às 09:21Atualizado em 17/12/2022 às 01:41
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 Evolução econômica de Uberaba - Parte V

Já a perda das transações com Goiás fez-se pela ação do comércio de Uberlândia (então Uberabinha), privilegiada, “indiretamente, pelo Governo Federal, através da construção em 1909 da ponte Afonso Pena [sempre esse nome!], que a colocava em estreito contato de comércio com todo o sudoeste de Goiás” (Eduardo Nunes Guimarães, op. cit., p. 27). Uberlândia, “dada a sua feliz colocação, tornou-se pela força das circunstâncias o empório natural de todo o movimento que a ferrovia Mojiana escoa para os grandes centros de população e para o litoral” (Pedro Pezzuti, apud Eduardo Nunes Guimarães, op. cit., p. 27).

Contudo, a “dominação de Uberabinha sobre a região ocorreu a partir de 1913 com a construção, pela Companhia Mineira de Auto-Viação Intermunicipal [empreendimento privado], de uma ligação por estrada de rodagem, desta cidade à referida ponte, colocando à sua mercê todo o sudoeste goiano e norte triangulino. Só assim se despontaria a cidade de Uberabinha, consolidando-se com entreposto comercial, sob a conjunção do tripé: ferrovia-rodovia-ponte Afonso Pena [...] Uberabinha foi, portanto, desde o início da segunda década do século XX, a cidade mais promissora de todo o Triângulo” (Eduardo Nunes Guimarães, op. cit., p. 27 e 30).

O Ciclo do Zebu

Ao contrário, pois, do que equivocadamente se considera e se diz, a introdução e desenvolvimento da pecuária zebuína em Uberaba e região não foram causas da perda dos relacionamentos comerciais de Uberaba e nem constituíram alternativa à sua crise comercial.

Uma coisa nada teve a ver com a outra, seja direta, seja indiretamente. Por formarem áreas econômicas diversas e independentes, conquanto parcialmente interagentes por ocorrentes nos mesmos espaço e tempo, tiveram desenvolvimento autônomo.

Basta ver que o zebu foi introduzido na região em 1888, quando Uberaba estava no auge de seu comércio. Relata Hildebrando Pontes em minucioso ensai

“O ano de 1888 estava fadado a ser, como foi, o da introdução efetiva e vencedora do zebu no Triângulo. Antes de terminar este ano, o major Ernesto da Silva Oliveira, indo a Porto Novo da Cunha a negócio de gado, ali viu uma raça de bovinos que lhe chamou a atenção pela sua originalidade. Eram exemplares da raça zebu que ali já se criava.

Desse gado comprou dois touros que trouxe embarcados até Três Corações e dali por terra até Uberaba” (“O Que Foi e o Que é o Gado Bovino do Triângulo Mineiro”, Convergência nº 12, 1982).

A partir daí estabeleceu-se o ciclo zebuíno em Uberaba e região, com compras naquele Estado até de seu touro mais valioso, o Lontra, em 1889, e depois, arrojadamente, indo os fazendeiros uberabenses, por si ou seus representantes, diretamente à Índia adquiri-los em incontáveis comitivas que, iniciadas em 1893 (e não em 1898 como repetem alguns) só foram encerradas na década de 1960.

Assim, não tivesse Uberaba perdido, por fatores totalmente alheios a ela, como se viu retro, suas praças de relacionamento comercial, a pecuária zebuína teria se desenvolvido de igual ou até mesmo de melhor forma paralelamente ao seu fluxo comercial, dada nessa hipótese o maior potencial econômico da cidade.

À evidência que, nesse caso, a economia zebuína não teria, como teve, a grande importância obtida, já que a repartiria com a comercial. Como esta entrou em colapso, só aquela alavancou o progresso de Uberaba. E se não fosse sua ocorrência, a cidade paulatinamente iria se encolhendo economicamente e perdendo totalmente sua posição regional, igualando-se a tantas outras.

Em consequência, se se pode constatar que “ressentindo-se de todo o ônus acarretado pelas perdas destas praças [de Goiás e Mato Grosso], a economia uberabense, que já estava em crise, passou a gravitar em torno da atividade pastoril – a criação de gado zebu” (Eliane Mendonça, op. cit., p. 11), não é certo, porém, ter havido mudança de atividade econômica e, ainda, que essa “mudança” tenha provocado estagnação no comércio e na cidade.

Como se viu, não houve mudança de atividade econômica, mas, crise no comércio em decorrência dos fatores apontados, que nada tiveram com o surgimento, existência e desenvolvimento da pecuária zebuína iniciada nos fins da década de 1880.

Não é também certo, como se tem entendido e até propalado, que a partir de 1906 Uberaba caracterizou-se por atividade predominantemente pastoril em “detrimento” da atividade comercial-urbana, perdendo a cidade sua posição de entreposto comercial, passando a exercer função “meramente” abastecedora de produtos básicos e de primeira necessidade.

A ocorrência e a predominância econômica do zebu não ocasionaram a estagnação comercial da cidade, não se fazendo, pois, em “detrimento” (= prejuízo) da atividade comercial. (Continua...)

 

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