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Veranico de janeiro

Na região do Cerrado, depois das boas chuvas de dezembro, costuma vir o veranico

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 18/01/2015 às 13:18Atualizado em 17/12/2022 às 01:48
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Na região do Cerrado, depois das boas chuvas de dezembro, costuma vir o veranico de janeiro, que é um período sem chuvas, geralmente muito quente. É um evento previsível, porém cercado de incertezas e imprevisibilidades. Não pensem que estou confundindo os leitores, é que o fenômeno é assim mesmo.

Para começo de conversa, o veranico não marca data, hora ou lugar. E é cheio de circunlóquios. Isso sem contar que, apesar de ser chamado de veranico de janeiro, pode vir em fevereiro, março... E pode nem dar as caras!

No meio rural, para alguns, o veranico é providencial. Por exemplo, para quem atrasou o plantio e não conseguiu executar os serviços antes, justamente por causa das chuvas, tem agora a chance de salvar a lavoura. E cada dia vira uma verdadeira corrida contra o tempo, pois nunca se sabe com certeza quanto tempo vai durar a estiagem. Para outros, que resolveram deixar o plantio para os últimos instantes de dezembro, o calor e a sequidão do veranico se transformam num pesadelo climático e agronômico. O produtor olha a lavoura e já prevê o desastre. Dependendo da intensidade, perde-se a safra, porque a falta de umidade no solo prejudica o desenvolvimento das plantas. É uma luta! No fim costuma dar certo.

Já para os meninos em férias, o veranico de janeiro é ótimo! O tempo seco permite andarem a cavalo até o entardecer, brincar no quintal, pegar frutas no pomar, nadar nos córregos, pescar, ficar fora de casa o dia inteiro. O que é muito bom para as mães, senão eles estariam chateados dentro de casa, reclamando da chuva, queixando-se da vida e exigindo lanche, atenção, sujando a sala que acabou de ser encerada. Menino dentro de casa nas férias é um transtorno.

A contraindicação é o sol forte, é o calor, é a poeira; não que os meninos liguem para essas coisas, mas preocupam os pais. Se nesse período de férias é a chuva que predomina, o jeito é inventar brincadeiras, ficar na varanda, jogar torrinha, jogar conversa fora, que não é jogo de tabuleiro e nem jogo de cartas, muito menos joguinho eletrônico, mas é muito melhor. Sem esquecer que namorar também é uma excelente opção. Meninos são inquietos por natureza, mas um bom livro também pode ser muito interessante, pelo menos até a chuva passar e todos puderem voltar ao quintal. Ah, bons tempos!

Nas cidades, como a vida segue outros fluxos e ritmos, as pessoas têm diferentes relações com o veranico. Um conhecido meu reclama bastante: “Eita calorzão brabo! Em pleno verão, tempo de chuvas, parece até que estamos queimando no inferno!” É o Juca Flausino, pedindo clemência contra o tempo quente. Em tempos de protestos, ele reivindica temperaturas mais amenas, distribuição regular das chuvas etc. Sugestões não faltam, mas ações que é bom, nada. Vejam o próprio Juca, o calorento nunca plantou uma árvore sequer! Depois vem reclamar?

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