ARTICULISTAS

O mal da rotina

Há temas que evitamos abordar, em face da tristeza que encerram

João Eurípedes Sabino
Publicado em 16/01/2015 às 10:55Atualizado em 17/12/2022 às 01:45
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Há temas que evitamos abordar, em face da tristeza que encerram. Todavia, pior do que descrevê-los é o fato de eles terem acontecido. Muitas vezes não é o articulista que escolhe o tema e hoje me parece que eu fui o escolhido. Vejamos:

É muito importante sairmos da rotina, porém mais importante é não entrarmos nela. Por que faço esta afirmação assim tão óbvia e difícil de ser realizada? Ela, a rotina, vai aos poucos nos envolvendo, até que assume em nós um poder. É tal a sua força, que quando damos por fé já estamos dominados e as consequências desse domínio podem, na maioria dos casos, ser até desastrosas quando não maléficas. A seguir, um fato verídic

No dia 17/12/2014, duas meninas foram esquecidas por seus pais dentro de carros; uma na capital mineira e a outra em São Bernardo do Campo (SP).

A mãe da primeira criança, substituindo o pai, levaria a filha ao berçário e depois seguiria para o trabalho. Renata Barbosa foi direto para o trabalho e esqueceu sua pequena no carro. Cinco horas depois voltou à escola para buscar a criança e se deparou com a tragédia: a filhinha estava morta no banco traseiro.

O pai da segunda criança, Rodrigo Machado, apanhou sua filha na casa da avó e, em vez de rumar para a escola, dirigiu-se ao trabalho. Ao ir à escola no fim da tarde para buscar sua joia, a surpresa: ela não estava lá e sim jazia no banco de trás do carro.

Em todos os depoimentos que anotei sobre as duas ocorrências, a rotina e o trabalho deram as cartas. Antes trabalhávamos para viver e hoje vivemos para trabalhar; tudo em nome de um futuro melhor que almejamos aos nossos filhos. Nesta corrida fazemos as mesmas coisas todos os dias sem obter resultados diferentes. Albert Einsten reprova isso.

O mal está no fato de introduzirmos atividades diferentes entre as costumeiras e, agindo de forma “mecânica”, acabamos por não priorizá-las serenamente. Levar os filhos à escola ou buscá-los (fiz isso demais), são idas e vindas repetitivas que podem se transformar em atos extra consciência, portanto lesivos se não forem devidamente hierarquizados. Filhos são filhos; trabalho é trabalho. Filhos não nos engolem, mas o trabalho...

A rotina pode não ser a porta principal de entrada do mal de Alzheimer, mas uma delas não tenho dúvidas de que seja. Ler e escrever são excelentes fechaduras.

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