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Coisas da televisão

Um garotinho de boa família e que acabara de completar quatro anos de idade

João Eurípedes Sabino
Publicado em 09/01/2015 às 20:24Atualizado em 17/12/2022 às 01:55
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Um garotinho de boa família e que acabara de completar quatro anos de idade faz um gesto inusitado com a mãozinha direita: retesando o dedo indicador na horizontal e, mantendo o polegar para cima como se estivesse  empunhando uma arma de  fogo, vira para o avô ao qual ama de montão e diz: “Vovô! Levanta os braços e não reaja! Isto é um assalto! Passe sua carteira e os cartões que tiver!”

O avô, perplexo e meio abobado, leva o caso na brincadeira, mas o pirralho neto é enfático e diz: “Não demore! Se você ficar bonzinho, não vou fazer nada, mas se reagir vai morrer”.  O avô, sem esboçar reação vai a uma gaveta e traz de lá a carteira com alguns cartões sociais e passa tudo ao neto. O menino sem saber o valor de cada nota e nem diferençar um cartão magnético de um social, recebe-os do avô e acrescenta: “Vovô, fica triste não. Aprendi fazer isso vendo a televisão, viu?”.

Pasmos, o avô, a avó e os pais da criança sentiram na pele o efeito dos programas de fim de tarde que, faturando milhões, derramam a violência in natura nas mentes das nossas crianças. Como censurar o “menino do assalto”, se ele, saído a pouco das fraldas, tem à distância das mãos vários programas sanguinários?

Pesquisei e soube que a escola do menino não ensina a seus alunos como manusear uma arma e, menos ainda, fazer qualquer apologia ao crime. Lá, inclusive, tratam com docência dos temas: violência, pedofilia, discriminação, racismo e outros na mesma linha.

Não tenho outra conclusão senão a de que a maioria das nossas crianças recebe informações demais e instruções de menos. Sabemos que as sementes maléficas germinam na terra com vigor incrível. No campo mental ocorre o mesmo, com um diferencial a mais: os pensamentos têm alcances que até o próprio dono desconhece.

Os pais do “menino do assalto” têm agora uma missão desafiadora que é a de acercá-lo muito, como antes não fizeram. E ainda canalizarem o talento do filho para que ele possa usá-lo só a favor da antiviolência.

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