ARTICULISTAS

A morte do livro

Meus filhos terão computadores, mas, antes, terão livros, eis o que disse Bill Gates

João Eurípedes Sabino
Publicado em 19/12/2014 às 20:01Atualizado em 17/12/2022 às 02:10
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“Meus filhos terão computadores, mas, antes, terão livros”, eis o que disse Bill Gates, do alto da sua sabedoria cibernética. Não por acaso o autor do livro “A estrada do futuro” construiu sua frase lapidar e arrematou com outra: “Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história”.  Mesmo sendo visionário, Bill mantém os pés no chão.

Tenho pensado muito, e de certa forma apreensivo, quanto ao futuro do livro de papel que, segundo os futuristas, caminha para a extinção. De um lado, assistimos aos recursos tecnológicos em rota de colisão com as obras impressas e, do outro, vemos as editoras, bibliotecas, livrarias, feiras, bancas, etc. resistirem bravamente. Livros e livros cabem num tablet.

No campo literário, nada emociona mais do que ter um livro em mãos e imaginar as vivências do autor ao concebê-lo. Inapetência, ansiedade, lombalgias, incompreensões de terceiros e outros inconvenientes vivem os autores. Aliás, o que seria da insônia se não existissem os escritores. Estando na Academia Brasileira de Letras no dia 30/03/2012, me deleitei ao ver objetos de Machado de Assis, além de sentir a presença do menino epilético, franzino e gago que, na caneta, continua insuperável.   

Recentemente fui agraciado com uma honrosa oportunidade: ser o “fiel depositário” de uma quase centenária enciclopédia deixada pelo empresário Aurelino Luiz da Costa, falecido no dia 15/04/1978. É indescritível a emoção quando abro um exemplar com mais de 500 páginas da obra “Biblioteca Internacional de Obras Célebres”.

Pergunt o cheiro característico do papel, a alergia provocada, a deterioração marcada pelo tempo  e o espaço físico ocupado, com o passar da carruagem, serão banidos? 

Fico a imaginar o quanto será frio o dia em que uma criança  perguntar ao pai como era um livro de papel e a resposta sair com dificuldade. Esse dia coincidirá com a data em que a curiosidade terá a exata duração do toque numa tecla e nada mais.

A interação direta entre o autor, sua obra e o leitor nunca poderá ser extinta. Enquanto existir um ser humano devotado à arte de escrever, ainda que seja entalhando letras no tronco de uma árvore, o seu pensamento ficará imortalizado. O livro de papel, portanto, não morrerá.

(*) PRESIDENTE  DO  FÓRUM  PERMANENTE  DOS  ARTICULISTAS  DE  UBERABA E  REGIÃO. MEMBRO  DA  ACADEMIA  DE  LETRAS  DO  TRIÂNGULO  MINEIRO. [email protected]

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