ARTICULISTAS

Um bom Natal aos nossos heróis

No envelope deixado na garagem de casa, lemos a mensagem: Que o seu Natal seja cheio de paz

Mário Salvador
Publicado em 16/12/2014 às 20:55Atualizado em 17/12/2022 às 02:13
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No envelope deixado na garagem de casa, lemos a mensagem: “Que o seu Natal seja cheio de paz e harmonia, em companhia dos amigos e da família. Que a passagem deste ano renove e revigore em todos nós a esperança de saúde, prosperidade, bem-estar e felicidade. Boas Festas.” Assinam o texto o motorista Cacildo e os coletores Adriano, Anderson, Manoel e Vinícius. E nos pedem: “Colabore com o Natal dos coletores.” São eles os responsáveis (no caso da avenida onde moramos, três vezes por semana) por fazerem desaparecer o lixo que produzimos o ano todo.

Com o envelope na mão, fazemos mentalmente o percurso desses bravos atletas, verdadeiros maratonistas que, num corre-para, percorrem seu trajeto atrás de um caminhão, até apanharem o último lixo e rumarem para o destino. Perguntamos-lhes quantos quilômetros eles correm. A resposta assusta: “Cerca de sessenta quilômetros.” Mais que o percurso de uma maratona, na qual desportistas correm livremente, recebem água e usam uniforme apropriado.  E os melhores têm direito a prêmio e fama.

Já o coletor vai fazendo milhares de paradas, apanhando um lixo aqui ou dezenas mais além. Outras vezes se depara com caçambas cheias, que demandam grande esforço do coletor para jogar o conteúdo delas na carroceria do caminhão e voltá-las para o lugar. Tudo isso geralmente exala mau cheiro, que toma conta do pulmão do coletor. Sessenta quilômetros percorrendo ruas na coleta de lixo...

E ao final do ano os coletores nos brindam com sua mensagem. Ao devolver o envelope com nossa dádiva natalina (... que é sempre pouca, já que eles merecem mais!), pensamos quantas vezes o coletor se abaixa, pega um lixo e o joga no caminhão. Se o motorista não para, o coletor precisa correr para conseguir alcançar o caminhão, agarrar-se às alças dele e atirar o lixo com destreza dentro do veículo.

Há histórias de ferimentos na mão, provocados por cacos de vidros e objetos pontiagudos acondicionados incorretamente em sacos para a coleta. E, apesar de todo o cuidado, acidentes também acontecem. E jornais já noticiaram que assaltantes surpreenderam coletores no terminal onde se descarrega o lix queriam os envelopes coletados naquele dia.

Uma reflexão acurada nos faz definir os coletores de nosso lixo como cidadãos maravilhosos, profissionais imprescindíveis ao gênero humano, heróis que se sacrificam pelo nosso bem. Sem o trabalho deles, nós mesmos é que teríamos que dar um destino ao lixo que produzimos todos os dias, ou optar por conviver com nossas mazelas.

Que nossos amigos - o motorista do caminhão e coletores - tenham um Natal de luz, ao lado da família e amigos e que tenham força para continuarem a exercer seu indispensável serviço em favor de todos nós.

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