Lendo uma tirinha do Garfield, me deparei com essa pérola: “Ouvi dizer que as calorias do Natal não contam”. Sábio Gato... Mandou ver na ceia de Natal e depois descontou do peso adquirido ao longo da semana as calorias do Natal. Simples assim, como em um passe de mágica, ele ficou de bem com a balança.
Como a arte imita a vida, e vice-versa, me lembrei imediatamente do nosso querido Brasil e seus índices miraculosos. Todos sabem que existe uma Lei de Diretrizes Orçamentárias devidamente aprovada e sancionada que impõe ao governante do país a tarefa de poupar recursos para pagar os juros da dívida pública. Nossa Presidente não fez o dever de casa e como todo aluno matreiro tratou de livrar-se da reprimenda: mudou a lei. E espertamente, como nosso Garfield, excluiu as “calorias do Natal” do cálculo da meta e pronto, o déficit sumiu, ou quem sabe o gato comeu.
Sinceramente, não acredito em uma Nação que usa de tais artifícios para fabricar números favoráveis ao governo. Acho isso espantoso, revoltante, um acinte ao trabalhador brasileiro que sua a camisa para não estourar seu orçamento doméstico. Abriu-se uma porta sem volta. Outras mudanças se seguirão a esta, com certeza. Ao estourarmos a meta de inflação anual, elevar-se-á por Decreto o índice permitido e os louros fictícios serão do governo. Se o PIB continuar crescendo zero ou próximo de zero, inventarão novas fórmulas de cálculo capazes de elevá-lo para, como se diz, inglês ver. Se os índices de violência continuarem subindo, retirarão deles as mortes por armas que não de fogo, como fizeram com o desmatamento, usando dois Institutos e duas formas diferentes de aferição para confundir os não atentos. E assim vamos fabricando um “país de primeiro mundo”, habitado por omissos complacentes que acreditam piamente que as calorias do Natal não contam. Lamentável. (*) Economista
