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Dom Quixote

Das utopias nascem os grandes feitos. Imagine-se quando o homem sonhou voar...

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 13/12/2014 às 19:39Atualizado em 17/12/2022 às 02:15
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Das utopias nascem os grandes feitos. Imagine-se quando o homem sonhou voar... hoje os céus estão tomados pelo intenso tráfego aéreo.

Portanto, é preciso sonhar. É lamentável quem diz que não sonha. Os sonhos norteiam as buscas do amanhã, irrigam de esperanças o hoje. Viver sem esperanças, sem buscas, sem norte é por demais vazio, sem graça, sem alegria, sequer virtual.

Lembro-me quando meu pai, carinhosamente, chamava  minha mãe de Dom Quixote, e seu usufruído automóvel de Rocinante, fazendo  referência à obra de Cervantes. É, ela sonhava mesmo, e com força. E em seu carro levava caridade a diversos lugares, na esperança de melhorar o mundo, ou pelo menos a vida de alguém mais imediato, o que chama-se de próximo. Tinha também em si a força da busca, da conquista, da fé no amanhã que estribava o preenchimento do hoje.

Não se pode parar de sonhar. É tão belo arquitetar um projeto, e fazer daquele sonho uma realidade!

Pois é. Ando precisando tomar uma dose dessa força materna. Não posso viver sem esperança de ver ao meu redor as pessoas tranquilas e felizes, podendo ir à igreja, à padaria, à banca de jornal, onde quiserem, quando quiserem, em paz e seguras. É que o crime está banal, infelizmente. As manobras  estatísticas não trazem a serenidade aos cidadãos.

Sinto uma impotência tamanha em dedicar dias e dias à busca de efeitos na aplicação da lei para tentar contribuir para que esse quadro se altere. Mas não tenho visto êxito prático, no momento vivido. Parece com "enxugar gelo". O momento é grave, o quadro é negro, e os remédios colocados à disposição não estão aptos a enfrentar a severidade dessa enfermidade social. É lamentável constatar. As pessoas de bem, que são a maioria, não podem diretamente enfrentar os bandidos, mas podem pressionar o Estado, a quem confiaram a tarefa da segurança pública. No entanto, têm feito isso de forma tímida, muito tímida.

As leis estão para o tempo que a criminalidade não atingia índices tão elevados. Estão fracas para praticar a tarefa que se mostra premente, urgente.  Enfrentar a criminalidade. Precisam de reformas urgentes, pelo menos para vigorar enquanto permanecer este estado absurdo de coisas.

Sonho com leis eficientes, assim como qualquer trabalhador deseja bons instrumentos para exercer sua atividade. Seja pintor, carpinteiro, médico, engenheiro, músico, policial,  seja lá quem for. Precisamos reduzir ao mínimo a tolerância com os reincidentes. Isso é fundamental. Esse prende e solta não está construindo nada. Enquanto isso, vou lutando e sonhando, sonhando, temendo, contudo, que os sonhos  sejam classificados de meras utopias, pois a parte da luta é árdua e diuturna.

É sabido que o crime não é moinho de vento. É necessário reagir já.

Caso a sociedade sonhe junta, a força torna-se real. O sonho vira projeto.

Enquanto só, espero que tais sonhos revelados não sejam então avaliados simplesmente como o mesmo delírio de Dom Quixote de Cervantes.

(*) Juiz de Direito

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