Cambalacho, de acordo com o dicionário Aurélio, significa: transação ardilosa e com intenção de dolo; tramoia; conluio.
Cambalacheir que ou aquele que faz cambalacho.
Enrico Discépolo foi um dos mais brilhantes autores de tangos argentinos. Nasceu em Buenos Aires em 1901 e faleceu, na mesma cidade, em 1951. A obra mais conhecida de Discépolo, no Brasil, é o tango Cambalache. Esta obra escrita em 1935 reflete, por incrível que pareça, o momento atual em que vivemos. É uma obra que sobreviveu ao tempo. Esse tango também foi gravado, no Brasil, por Raul Seixas, Caetano Veloso e outros. Eis a letra, suprimida de alguns trechos:
“Que sempre existiram larápios/ Maquiavélicos e safados/ Contentes e amargurados, verdadeiros e falsos.
Não há diferença em ser correto ou traidor/ Ignorante, sábio, generoso ou enganador/ Tudo é igual, nada é melhor./ É o mesmo um burro que um grande professor/ Não há normas e escalas de valores/Os imorais nos igualaram /Alguns vivem na impostura e outros roubam por ambição/ Que falta de respeito que atropela a razão! /Qualquer um é um senhor, qualquer um é um ladrão.
Século vinte cambalacho, problemático e febril/ O que não chora não mama/Quem não rouba é um imbecil/ Já não dá mais, força que dá/ Que lá no inferno nos vamos encontrar/ Não pense mais, senta-te ao lado/ Que a ninguém mais importa se nasceste honrado.
É o mesmo quem trabalha/ Dia e noite como um boi/ Ou quem vive dos outros/ Quem mata ou quem cura/ Quem é probo / Ou quem está fora da lei”.
Fazendo-se uma projeção para os dias de hoje veremos que os cambalacheiros atravessaram o século.
Entretanto, ao julgar, é preciso cautela para não transformar um cidadão honrado em bandido.
Cuidemos para não colocarmos todos no mesmo lamaçal.
(*) Membro titular da Academia Mineira de Medicina, professor emérito da UFTM, doutor em Ciências pela UFMG, post-doctor pelo National Institutes of Health (USA), ex-diretor da FMTM/hoje UFTM (1989-1993 e 1997-2001) e ex-secretário de Saúde de Uberaba (2009-2012)