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Michelangelo e a Estátua de Julio II

Valdemar Hial
Publicado em 26/11/2014 às 10:19Atualizado em 17/12/2022 às 02:32
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 Michelangelo e a Estátua de Julio II

Por que nós, seres humanos, tão pequenos diante do universo, somos capazes de opinar sobre determinados assuntos? É evidente que nos preparamos para que, usando o bom senso, saibamos até onde é o nosso limite intelectual. É este o princípio básico de qualquer profissional - saber opinar sobre aquilo para o qual se preparou. Por outro lado, sabemos que o ignorante é ousado - opina sobre tudo e sobre todos, sem conhecimento de causa. Citando, como exemplo, o professor(a), vamos encontrar aquele(a) que no início de carreira responde a tudo que o aluno pergunta, achando-se universal sobre a matéria que leciona. Somente após longos anos de magistério e conhecedor melhor do assunto, ele (a) terá condições de não se aventurar nas respostas.

Dizia Lorde Kelvin: “Se você pode medir aquilo que falas, então sabeis algo sobre o assunto, caso contrário, vosso conhecimento é pobre e muito pouco satisfatório.”

É sabido que Michelangelo desejava ser maior como escultor do que como pintor. Muitas vezes, também, desejamos ser algo a mais e, como não conseguimos, nos achamos no direito de ser o que não somos. Não é o caso daquele que, sem dúvida, tornou-se um mestre nas duas artes - pintura e escultura. Autor de obras que o imortalizaram como, La Pietà (escultura), o Teto da Capela Sistina (pintura), David (escultura), Moises (escultura) e tantas outras.

Foi o Papa Julio II quem encomendou a pintura da Capela Sistina ao grande Mestre e durante um terrível convívio entre ambos a obra de Michelangelo foi surgindo para a posteridade. Outra obra encomendada pelo Papa foi sua própria escultura. Michelangelo inicia este trabalho como uma forma de imortalizar o seu patrão. Terminada a tarefa, Michelangelo passou a admirá-la, porém logo notou que as sandálias da estátua não condiziam com a realidade. Humildemente, próprio dos grandes homens, procurou o sapateiro responsável pela confecção das sandálias e o convidou para examinar os pés do Papa.

O sapateiro, conhecedor profundo do assunto, não hesitou em afirmar que aquelas não eram as sandálias do papa. Logo, o mestre procurou reparar o seu erro, esculpindo as sandálias que o sapateiro trouxe como modelo. Passados alguns dias, o sapateiro retorna ao atelier de Michelangelo, convicto de seus conhecimentos e agora, achando-se profundo conhecedor das artes plásticas, começa a examinar a estátua de Julio II, talvez querendo se tornar um coautor – afinal, ele participou dando sua opinião no caso das sandálias – e, ato contínuo, diz:

- Mestre, eu quero dizer que não gostei do nariz do papa e Michelangelo, de pronto, respondeu:

- Sapateiro, não vás além da sandália.

Valdemar Hial

Médico, Membro Titular da Academia Mineira de Medicina, Professor Emérito da UFTM, Doutor em Ciências pela UFMG, Post-Doctor do National Institutes of Health(USA), Ex-Diretor da FMTM hoje UFTM(1989-1993 e 1997-2001) e Ex- Secretário de Saúde de Uberaba(2009-2012).

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