A abundância muitas vezes é associada à felicidade. Mas, muitas vezes, a abundância cega. Não provoca a reflexão, a análise, não permite que se dê o devido valor às situações de fato. Impede a evolução.
Também, não é em vão que dizem que nas quedas é que o rio adquire energia.
Quando, impiedosa, a seca vem é que valor damos à abundância da água.
Aquela gota d’água que deixa de escorrer da torneira e torna-se uma gota de lágrima a escorrer em nossos olhos é que nos remete à reflexão do quanto a falta, a dificuldade, nos fazem valorizar a fartura, a bonança, a felicidade.
Andar e ver a vegetação seca, triste, sentida, morta, traz a saudade das águas que fazem a vida. Das flores, dos pássaros, que ficam sumidos, guardando o canto por falta da alegria do viver.
Abrir a torneira e naturalmente receber o banho da água nas mãos, no corpo e despreocupadamente gozar do prazer da vida sem se ocupar da dádiva divina da natureza pode afastar a reflexão da valoração dessa graça.
Quando a água não vem é que efetivamente a ela damos o devido valor.
Assim como a luz vem na escuridão. Assim como o calor vem ante o frio.
Assim, como a felicidade retorna na tristeza.
É importante na vida quando abrimos a fonte do sentir e podemos banhar a alma, apanhada, sofrida pelas intempéries do viver. Sedenta de alegria, a alma consegue banhar-se, livrando-se das mazelas que a vida impõe.
Banhada a alma pela luz do Senhor, assim como o corpo, pela água da natureza dada pelo Senhor, surge a sensação de bem-estar daqueles que conseguem a catarse do viver.
E então, apanhando nas dificuldades, somos estimulados a pensar e valorizar o contrário, para buscarmos sempre a evolução do nosso ser. Evolução essa que é abraçada à lição cristã da humildade. Quanto mais humilde, mais leve, mais puro, maior.
Portanto, quando a chuva volta, trazendo novamente o verde da vida, que nossos corações tenham tirado a lição do valor que a água tem, e sua falta faz. Por conseguinte, que paralelamente possamos pensar na importância que o amor tem, e o quanto sua falta dói. A importância que a honestidade tem, e o estrago que sua falta faz. E assim por diante com todas as fontes da vida do corpo e da alma. Com todas as virtudes.
Que tiremos das dificuldades a consciência para renovarmos sempre as nascentes das águas e das virtudes. E que saibamos que a vida vai em cada gota que cai ou que deixa de cair.
Que as dificuldades sejam o estímulo Divino para evoluirmos o ser.
(*) Juiz de Direito