Faxina de fim de ano

2014 vai chegando ao fim. É, portanto, chegado o momento de começarmos aquela faxina de fim de ano, como que nos despedindo de mais uma etapa. Não é mais possível protelar esse serviço. Ou a faxina acontece ou iniciaremos 2015 com a casa abarrotada de objetos que não mais usaremos e/ou que estão encostados há algum tempo.

Um provérbio popular já serviu para definir o amontoado de objetos supérfluos em casa: “Quem guarda o que não presta sempre tem o que é preciso.” Entretanto, como a ordem é rever ideias criticamente, também essa precisa ser revista. Quem guarda o que não presta, na verdade, entulha a casa de cacarecos. É bem prazeroso viver numa casa mais clean, ou seja, sem excessos (o que facilita a circulação, bem como novas operações de limpeza e organização e melhora o visual). Não temos necessidade de fazer de nossa casa um depósit hoje, se precisamos de determinado produto, temos acesso fácil a ele no comércio (supermercados, restaurantes self-services, todo tipo de lojas, inclusive a virtual e/ou delivery, para nos servir de imediato).

É verdade que alguma vez já nos valemos de algo há muito guardado. E foi só! O montão de coisas inúteis ficou intocável por anos e anos, sem serventia, sendo que talvez pudesse ter sido útil a outra pessoa. Exceções sempre existem; podemos fazê-las em relação a objetos de estima, que talvez nos acompanhem por toda a vida.

E como nos livrarmos dos entulhos? Verificando, com cuidado, cada cômodo da casa, vamos descobrindo, infalivelmente, coisas que possam ser descartadas e encaminhadas convenientemente para instituições que as aproveitem de verdade. Algumas instituições vendem recicláveis coletados, apurando um bom valor que será posteriormente nelas empregado. Já aqueles trastes que não terão serventia, nem como recicláveis, o ideal é reconhecê-los como lixo e retirá-los de casa como tal. 

Um amigo se mudou recentemente de casa; colocou o que tinha de melhor no caminhão de mudanças e deixou, na calçada, coisas de que não precisaria. Assim, de manhã pudemos ver, na frente da casa onde ele morou, sofá, mesa e cadeiras (com alguma avaria) à disposição dos interessados. Ao longo da semana, os trecos descartados foram sumindo. A casa para onde se mudou o amigo terá espaço para móveis novos ou apenas ficará menos cheia, mas, certamente, será mais bonita e aprazível. Casa nova, vida nova. Contudo, mesmo se não nos mudarmos de casa, podemos mudar a nossa casa, abrindo espaço para respirarmos e aproveitarmos melhor nosso ambiente. Nossa casa é o reflexo de nossa mente e vice-versa. Arejando uma; renovamos a outra. 

Uma verdadeira faxina na casa toda vai do chão ao teto; do muro do quintal (no fundo da casa) ao jardim, portão e até a calçada (na frente da casa), passando por todos os cômodos. Vamos ficar espantados com o resultado dessa faxina de fim de ano, feita com critério e sem medo de nos despedirmos de algum móvel, roupa, brinquedo e outros objetos, abrindo caminho para o novo, se for o caso, ou deixando o espaço aberto, arejado, lindo, limpo, convidativo, acolhedor e com ótima circulação e, principalmente, renovando energia. E a faxina de fim de ano deve, também, incluir o lado espiritual, talvez mais importante que o material: começar o novo ano sem rusgas, rancores, ressentimentos, mas com espaço para novas ideias, para a criatividade, luz e esperança. Essa transformação é sempre possível e abre um espaço no coração, que será ocupado por algo que alegre a vida.

Assim como acontece com nossa casa, a mente ocupada com aquilo que é ruim rejeita o que é bom. Assim, se queremos operar grandes mudanças no mundo, podemos começar por organizar e liberar o espaço interno e externo que nos diz respeito. Será o começo de uma catarse que, embora pequena, permitir-nos-á uma reflexão purificadora e encorajadora para um trabalho mais amplo, de alcance social, que consistirá na vontade de agir no sentido de que mais pessoas, num espaço mais amplo, também possam experimentar essa mesma sensação de paz, alegria e purificação com que nos sentimos agraciados depois de uma boa faxina.