ARTICULISTAS

Sobre a poética e a prosa (continuação)

Nessa situação poética – a poesia – a escrita supera o sentido, o que importa é a materialidade

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 05/11/2014 às 20:29Atualizado em 17/12/2022 às 02:52
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Nessa situação poética – a poesia – a escrita supera o sentido, o que importa é a materialidade da palavra, seja musical, plástica ou icônica – “a atividade poética é uma coisa voltada para a palavra enquanto materialidade, a palavra enquanto coisa do mundo” (Paulo Leminski). Diferentemente da prosa onde a materialidade da palavra não importa, mesmo no caso dos escritores no qual a palavra é trabalhada como matéria-prima artística. O verso é uma unidade musical imagética, onde encontramos prova do amor entre os sons e os sentidos. O ato de amor se passaria na mente do poeta durante o processo de criação, no instante de juntar sons e sentidos, confirmando que poesia é intrinsecamente e substancialmente evidência e resultado do amor entre o poeta e sua língua. Escrever é mostrar o amor pela linguagem a ponto de podermos dizer: ele escreve bem, ele escreve com a alma. Ler leva-nos a participar deste ato de amor, acompanhamos o desenrolar de uma paixão, as cenas de um amor entre o escritor e sua língua. Se ele demonstra o amor ao buscar seus sons, sua forma e sua relação íntima, realizando seu possível a língua, também ama seus poetas como se fossem seus filhos mais atrevidos. Como nos diz Paulo Leminski, o poeta é aquele que se compraz em mostrar como as palavras são bonitas, como têm um rabinho interessante, uma forma especial, sendo na verdade uma tesão. O poeta é aquele que deglute a palavra como um objeto sexual, até mesmo como um objeto erótico. Encontramos expressão desse amor no texto da poetisa Irmã Maria Domitilia Ribeiro Borges – Flor intocada: “Amo a palavra, que à transparência da imagem, transmite a profundidade da ideia. Conduz a ressonâncias e fica como a canção dentro de nós”.

Mais significativo é este ato de amor quando lembramos que a linguagem é imposta ao homem. Quando nascemos caímos de paraquedas numa história em movimento, num grupo humano que se comunica através de uma língua e o nosso desafio é aprender rapidamente a usá-la, como ele, aprendendo os sons e as suas leis. De repente, aos quatro anos, nos damos conta que falamos uma língua – o português que se possibilita a comunicação imediata com estes que estão perto também dificulta a repercussão da nossa fala em termos mundiais. No entanto, nos idos tempos de 1937, um holandês emigrou para o Brasil – Prof. Leonardus Paulus Smeele, que, depois de retornar à Holanda para defendê-la na Segunda Guerra Mundial, volta ao Brasil quando o conflito armado termina, escolhendo Uberaba para fincar raízes. E aqui, em 1958, funda o Instituto Cultural Brasil Estados Unidos (ICBEU) juntamente com Murilo Jardim, fator de grande influência na formação dos jovens uberabenses, onde eu me incluo e acredito que muitos dos aqui presentes.

Também encontramos profundas relações entre o poeta e o adivinh ambos têm o dom da vidência – o que eles veem são as partes do tempo inacessíveis aos mortais: o que foi, e o que ainda não é. (continua)

(*) Psicóloga e psicanalista

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