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Falando de Criança III

Não se deve anular o dizer da criança e nem dizer por ela. Anulando a criança

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 30/10/2014 às 19:51Atualizado em 17/12/2022 às 02:59
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Não se deve anular o dizer da criança e nem dizer por ela.

Anulando a criança, esta é colocada em uma posição de objeto. E o que um objeto faz é ficar quieto, calado, inerte, passivo, podendo ser colocado na posição que o outro ordenar. A criança é corresponsável pelo seu processo de vida, porém, na lógica da medicalização, fica anulada, à mercê do discurso contemporâneo. A criança não produz sob a lógica capitalista, então produzem e ofertam algo aos pais para darem a elas.

Existe, na criança, a presença de um sujeito. Um sujeito diferente de um objeto, é ativo, fala e se posiciona.

Os pais devem ficar atentos às crianças, pois são eles, seus reais protetores quanto aos perigos da vida. Devem se responsabilizar por suas crianças, até que tenham desenvolvido o discernimento de limites e de perigos e que saibam que não só de prazer vive o homem. A criança também é responsável pelas suas eleições, um responsável em construção. As palavras ausentes, não ditas aos pequenos colocam as crianças no lugar de objeto receptor e não de sujeito dinâmico.

As crianças não estão isentas da modernidade e surpreendem o adulto em sua intimidade com a tecnologia. Bastante envolvidas tecnologicamente, pedem tablets de presente, exigindo marcas, configurações. Porém, junto à tecnologia, apresentam-se às crianças novas formas de comunicação.

Se por um lado as crianças têm aprendido novas formas de comunicação, na outra face elas têm abandonado cada vez mais outras formas de linguagem. Abandonam a escrita em lápis e papel, onde o sujeito é quem faz o signo da letra e constrói ali seu registro. Perdem o contato humano e as trocas de vozes e palavras. A presença humana tem a interferência de uma máquina. Substitui-se a fala por caracteres, perdendo na sonorização e no enfrentamento ao outro. É mais fácil se manifestar pelo virtual, fazer amigos, alimentar o ego, driblar o supereu,  conectar o sintoma, desfazer amizades.

Para a Psicanálise, a criança produz, se produz, inventa, cria, e faz um novo mundo acontecer, construindo uma estratégia de vida.

A inquietude e desatenção da criança pode ser dificuldade dos pais, professores e educadores. O lugar de educador está sendo ocupado ora pelos pais, ora pelos professores e ora por medicamentos.

Para a infância, talvez um pouco menos de uso tecnológico ajude ou permita um posicionamento mais livre deste sujeito.

Cada sujeito é dono e proprietário inegável de seu desejo. A criança então, através de suas brincadeiras, desenhos e sintomas vai revelando seu desejo, o qual é necessário ser escutado e valorizado. É um direito serem protegidas e um direito serem ouvidas. A criança se manifesta em  suas diversas possibilidades de expressão.

A criança deve ser ouvida verdadeiramente.

(*) Psicóloga Clinica [email protected]

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