ARTICULISTAS

Falando de Criança II

Falando das crianças de hoje, com o que é necessário se preocupar?

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 23/10/2014 às 20:01Atualizado em 17/12/2022 às 03:05
Compartilhar

Falando das crianças de hoje, com o que é necessário se preocupar?

Se há algo com que se preocupar é com o fato de que, se antes, o ser humano sofria por não saber o que fazer do seu desejo, hoje, a juventude sofre por não saber o que deseja. Esse excesso de saber coisas, de possuir objetos e consumir tem tirado o lugar da infância, da mesma forma como tem vestido  as crianças de modo adulto, novamente.

Viver é relacionar-se.

O social é linguagem.

Há várias formas de se tolher esse laço social. Na civilização contemporânea de acesso ao gozo e intolerância ao outro, as crianças são tolhidas com medicamentos, os quais impõem silêncio, trancafiando-as em si mesmas. 

A civilização ou entrada na cultura se dá na família.

O lugar da criança como agente de sua história é o que dá corpo para sua existência no mundo.

A ausência de reconhecimento e lugar na família e no social enquanto status de criança causa tristeza, desolação e ceticismo aos pequenos.

Tolher a expressão da criança é  violar o seu direito. Privar as crianças do mundo da tecnologia é privá-las de sua era, e privá-las da fala e de brincar com suas criações, é privá-las de criar e construir-se.

Na perspectiva medicamentosa, o fenômeno da medicalização destitui o sujeito de sua condição de partícipe.

Os números de medicamentos já assustadores devido às suas trágicas aplicações ampliam-se nas férias escolares, o que reforça a tendência  da utilização da ‘droga da obediência’.

“Recentemente, o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) da Anvisa indicou que o consumo anual de metilfenidato industrializado no Brasil entre 2009 e 2011 mais que dobrou no período, saltando de 557.588 caixas para 1,2 milhão, sendo os indivíduos entre 6 e 16 anos principais consumidores. Nesta faixa etária, o aumento do uso foi de 74%, contra 27,4% no grupo entre 6 e 59 anos.” 

O uso exagerado da tecnologia é marcante, pois o abuso está presente nos tempos modernos.

A substituição dos laços sociais pelos laços virtuais é que preocupa, pois torna precária a relação entre as crianças e o mundo a sua volta.

É necessário educar a criança e ouvi-la e não atordoá-la à química com riscos para a vida. Nas palavras escapam essências humanas que medicamento nenhum será capaz de colocá-las em cápsulas. Nas palavras há amor, vínculos, ódios, histórias, remendos...

 É necessário se questionar e fazer políticas em prol da infância e seus dizeres. As crianças elegem as palavras.

(*) Psicóloga Clinica

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por