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Que mundo, meu amigo

São nas eleições que os coronéis revitalizam a dominação. Sendo preciso, mudam de aliados

Gilberto Caixeta
Publicado em 21/10/2014 às 20:25Atualizado em 17/12/2022 às 03:08
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São nas eleições que os coronéis revitalizam a dominação. Sendo preciso, mudam de aliados, assegurando assim o domínio. O voto é a expressão de seu prestígio, portanto, não pode faltar, usam de mecanismos variados para assegurar o mando. Esse fenômeno, durante a República Velha, ficou conhecido como coronelismo e se afirmou ao longo de nossa história. “Aprender a ler? Coisa inútil. Cabo de enxada, foice, machado e laço de couro cru engrossam as mãos — caneta e lápis são ferramentas muito delicadas... E quem perdeu tempo na escola com leitura e escrita acaba logo se esquecendo do pouco que aprendeu”. Em Vila dos Confins, Mário Palmério descreve a prática eleitoral desse período e os mecanismos de dependência dos segmentos sociais para com os seus mandatários. E, ainda, pincela a escola com os seus desusos. Qual a diferença para os dias atuais? Da enxada ao notebook, do voto escrito às urnas eletrônicas; o voto escrito desmoralizava o processo eleitoral. Escrevia-se de tudo na cédula, exceto o nome dos candidatos. O voto eletrônico evitou a desmoralização eleitoral. Ampliou-se o acesso ao voto, mas, nem sempre, a informação correta. Manipulam informações como drible, cuja meta é o controle social pelo medo. Todos interrogariam uma câmera filmando a rua o tempo se não houvesse a violência e a incapacidade dos órgãos de segurança em contê-la. O mesmo ocorre na política. À época dos coronéis, o controle eleitoral era meio e fim. Nada mais incomum do que o seu desdobramento atual. Seja no exercício do medo, do aparelhamento institucional... Empresários se unem no fatiamento das obras públicas, na doação financeira às campanhas na obtenção de lucros no sobrepreço das obras. Os sindicalistas partem do princípio de que os sindicalizados compõem o seu curral eleitoral. Os sindicatos são aparelhados pelos partidos, assegurando-lhes a melhor fatia do bolo, que não é ideológico, e sim financeiro. Da enxada ao sindicalismo, caminhamos em direitos trabalhistas e libertários que não se equivalem à liberdade. A imprensa não está imune, sempre há um jornalista regado pelo sistema e outro aguado pela oposição. Tenho vergonha dos e-mails do Sindicato dos Professores da Rede Privada (Sinpro) encaminhados a nós, professores. Os seus conteúdos expressam a manipulação e a concepção de que somos otários. O aparelhamento sindical o deixou acéfalo de propostas que não sejam a mamata obtida pelas contribuições de seus associados. A maioria que está à frente do Sinpro não são professores, não sabem o que venha a ser isso. São ideólogos que se julgam donos da verdade, mas, na verdade, são pelegos institucionais. Aquelas mensagens encaminhadas pelo seu presidente, que se utilizou da estrutura sindical para não se eleger a deputado estadual, causam-nos indignação pelas inverdades que contêm. Deveriam estar à frente da valorização de nossa profissão, atuando para aclarar a verdade. “Vila dos Confins” não pode ser uma condenação, mas narrativa, cuja prática deve ser combatida em tempos atuais.

(*) Professor

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