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A arte da propaganda

Provérbio caipira: Quando a galinha gritar, corre lá que ela botou ovo

Padre Prata
Publicado em 19/10/2014 às 13:15Atualizado em 17/12/2022 às 03:09
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Provérbio caipira: “Quando a galinha gritar, corre lá que ela botou ovo”. Diziam que ela cacarejava para fazer propaganda de seu produto. É voz geral que a galinha não consegue aprender nada, mas sabe como anunciar seu grande feit botar um ovo.

Não resta a menor dúvida de que a propaganda é um recurso indispensável no relacionamento humano. Muito mais do que isso, é uma arte e uma ciência. É a arte de convencer. De enganar. Saber empurrar um produto exige um espírito inventivo que não é dado a todos. Diariamente, somos bombardeados por propaganda de todos os tipos. Respiramos propaganda. Umas inteligentes. Agradam. Sempre nos lembramos delas. Outras de uma burrice sem explicação. Irritam e provocam engulhos. Você tem experiência disto. Há uma casa comercial que aparece com frequência em nossas telinhas da TV. Faz sua propaganda na base da gritaria. Do espalhafato. Não agrada. Mais do que isto, ela irrita. Será que eles pensam que gritando nos convencem?

Estamos nos aproximando das eleições. A propaganda dos partidos invade nossas salas. Algumas sofríveis. A maioria de um mau gosto cansativo. Propagar seus programas, suas ideias, seus bons propósitos é um direito que os partidos têm assegurados por lei. É a propaganda partidária. Ninguém discute isto. O problema é que, dentro dos atuais acontecimentos, é difícil acreditar nela. Com razão ou sem razão, não vou discutir isto, mas os partidos, em grande parte, perderam sua credibilidade. A corrupção ocupou uma área muito grande. Há políticos corruptos e políticos honestos. Há padres bons e padres que dão mau exemplo. Há bons pastores e pastores que só pensam no dízimo. Há bons médicos e médicos incompetentes. Há advogados admiráveis e advogados trapaceiros. Há negociantes honestos e negociantes que exploram os inocentes. O pior é que os corruptos enlameiam o conjunto. Jesus deixou bem claro que o trigo nasce semelhante ao joio (tiririca) que provoca confusão e suspeitas infundadas. É uma injustiça julgar que todos os políticos sejam desonestos.

Estamos vendo nos debates televisivos candidatos que se agridem mutuamente, difamando, caluniando. A propaganda partidária seria mais aceita se fosse elaborada de um modo mais criativo. O que é certo é que ninguém acredita no que dizem. Somos convidados para engrossar suas fileiras, para ajudá-los a construir um país melhor. “Junte-se a nós”. Para quê?

Afirmam com toda convicção que irão criar um país renovado. Prometem reformas profundas na saúde, na educação, na segurança, no salário, na moradia. O pior é que ninguém acredita mais naquele palavreado. Todos que os ouvem ficam aflitos para que aquela arenga acabe logo. O que interessa é o noticiário ou a novela que vem logo a seguir.

Mais uma vez, é direito deles. Juridicamente garantido. Que continuem com suas sugestões políticas. Ótimo. O que desejamos é pouca coisa, que essa propaganda seja feita com mais criatividade, com mais inteligência. Que analisem a realidade política sem partidarismo. Que não façam promessas. Que apresentem programas de reformas bem elaborados. Elogiar o próprio partido é contraproducente.

Para terminar: estamos cansados. Muito cansados. Façam alguma coisa antes que a esperança vá embora de vez. Votar tornou-se um sacrifício sem esperança.

Para terminar: estamos cansados. Muito cansados. O que fazer?

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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