ARTICULISTAS

Politicagem daninha

Para conceber este texto fiz uma das coisas que mais gosto: voltar ao tempo e rever tópicos

João Eurípedes Sabino
Publicado em 17/10/2014 às 20:29Atualizado em 17/12/2022 às 03:11
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Para conceber este texto fiz uma das coisas que mais gost voltar ao tempo e rever tópicos da história de Uberaba. Tenho em mãos o Indicador de Uberaba – 1917 com o subtítulo Personalidades e Instituições. Um salutar presente do amigo Hélio Luiz do Nascimento.

Na página 57, com sua barba branca, de largura e comprimento duas vezes maior do que o rosto, está Frei Eugênio Maria de Gênova, o fundador da nossa Santa Casa inaugurada a 14/06/1898. Atribui-se a ele grandes empreendimentos locais e a lista é grande. Do referido Indicador – 1917, destaquei sobre o dinâmico capuchinh “...no seu tempo, no remoto anno de 1856, já pleiteava a construcção de uma ponte sobre o Rio Grande unindo São Paulo a Minas e Goyaz, e já batia-se com ardor pela canalização das águas do Rio Uberaba para abastecimento de nossa cidade, problema ainda hoje relegado pela politicagem daninha que tantos males e damnos traz ao município”.

Observa-se que o problema hidráulico de Uberaba, apesar de ser definida como “águas claras e cristalinas”, vem de muito longe. Há 158 anos, portanto, o rio Uberaba já era a menina dos nossos olhos. Frei Eugênio com sua argúcia mostrou-nos a direção, efetivamos a sua ideia, mas até hoje não fomos capazes de ampliá-la nas proporções devidas.

Errou o Informativo-1917 em dizer que o nosso abastecimento se submete à politicagem daninha? Por certo que não e ainda o frei enxergou mais de um século e meio à frente. O descompromisso foi e é o responsável pela falta de reservas hidráulicas para responderem à seca que há 51 anos bate à nossa porta. Senão vejamos:

O extinto jornal Lavoura e Comércio de 01/10/1963 trouxe a seguinte notícia: “O tempo em Uberaba continua bom, com névoa seca e calor intenso. Não há perspectivas de chuvas. O uberabense continua sofrendo os efeitos da longa estiagem que já supera sete meses”. Francisco Lopes Velludo, vereador idealista, arregaçou as mangas e implementou o nosso serviço de captação de águas no já desfalcado rio Uberaba. Sua obra teve tanta repercussão que lhe rendeu a eleição à prefeitura, porém não ascendeu ao cargo graças ao regime duro de governo da época.

No advento Chico Velludo éramos bem menos de cem mil e hoje suplantamos os trezentos mil habitantes. Passado mais de meio século, só tivemos a ajuda recente do rio Claro, somada a alguns poços profundos, e nada mais.

O nosso rio Uberaba de hoje é o mesmo de 1856 que passou por 1963 e daí só declinou. E agora? Espero que a politicagem não seja tão daninha e resolva o problema do nosso abastecimento.     

(*) PRESIDENTE DO FÓRUM PERMANENTE DOS ARTICULISTAS DE UBERABA E REGIÃO, MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DO TRIÂNGULO MINEIRO

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