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Vicissitudes culturais

A protagonista principal do filme que leva seu nome era Wadjla – uma indiana de 10 anos

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 01/10/2014 às 20:32Atualizado em 17/12/2022 às 03:26
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A protagonista principal do filme que leva seu nome era Wadjla – uma indiana de 10 anos em seu processo doloroso de aculturaçã como era mulher não aparecia na árvore genealógica da família paterna, como era mulher não podia andar de bicicleta, como era mulher tinha que preservar sua virgindade -  único valor de troca feminino, como era mulher deveria usar a “burca” todas as vezes que saia à rua, como era mulher não poderia estabelecer contatos de amizade,  como era mulher compartilhava com a mãe a crise matrimonial vivida decorrente da sua impossibilidade de dar um filho homem ao pai, como era mulher permaneceu com a mãe depois que o pai casou-se novamente.

Este filme foca o feminino na cultura indiana e arrepia por comprovar a máxima falácia de uma sociedade “machista” que eterniza a situação de submissão inferiorizante da mulher frente ao homem. Em uma cena, assistimos a mãe e filha, na cozinha, preparando uma farta refeição e, quando tudo fica pronto ela coloca, de forma artística, na travessa, levando até a porta de um quarto que está fechada. Bate à porta depois de colocar a travessa no chão. Neste momento, o marido abre a porta, elogia a farta e perfumada iguaria e pela porta entreaberta ouvimos ruídos de vozes que indicam uma reunião de homens. Em seguida, ele fecha a porta e a mulher volta para o seu territóri a parte interna da casa onde se fabrica alimentos!

O momento social, no entanto, reserva à Wadjla um papel reformador, pois ela ganha a tão desejada bicicleta, aprende a se equilibrar ao dirigi-la, e, ainda, ganha com larga vantagem uma corrida disputada com seu amigo e admirador!

Como não somos imunes ao momento cultural, a inquietude é a tônica nesta semana de festa democrática. Isto se deve à dificuldade experimentada por todos que se obrigam a participar da vida política por reconhecerem sua importância e, ao mesmo tempo, não conseguirem diferenciar seguramente qual o melhor partido e qual o melhor projeto de governo. Em primeiro lugar porque as propostas são iguais nos diferentes partidos, e em segundo porque as pesquisas de intenções de votos mais confundem do que esclarecem. Elas revelam oscilações  que independem dos escândalos de corrupção que pululam os noticiários, mesmo quando se sabe que os brasileiros estão fartos dos ladrões e das falsas lideranças ou seja todos que apenas desejam participar do orçamento da união! A candidata à reeleição promete mudanças radicais para o próximo período mesmo sabendo da impossibilidade de cumpri-las, pois continuidade no governo é manter os mesmo acordos de cargos e participações orçamentárias!

O filme acima focado assegura prognóstico positivo enquanto aqui neste já considerado “País do Futuro” a perspectiva de uma reinvenção democrática se apresenta cada vez mais distante no horizonte dos esfomeados líderes.

(*) Psicóloga e psicanalista [email protected]

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