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A doença do Coringa

A doença que mais teve risco de contaminação é uma doença que talvez

Júlia Castello Goulart
Publicado em 27/09/2014 às 20:37Atualizado em 17/12/2022 às 03:29
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A doença que mais teve risco de contaminação é uma doença que talvez você nunca ouviu falar. Uma doença que começou a muitos e muitos séculos atrás. Não se sabe ao certo como ela surgiu, mas existe a teoria de que um dia, entre as cartas do baralho num jogo comum, apareceu um ser diferente. Um ser que não se encaixava muitas vezes no jogo que a própria sociedade estipulava. Este ser ficou conhecido como Coringa. Este desde que chegou à região, não entendia o porquê do jogo sempre ser o mesmo.

 Ele sabia que era o único que enxergava a verdade. Sabia que as cartas se enchiam de orgulho pra falar do que tinham, mas não sabiam ao certo que eram controlados pelas regras do jogo. Um jogo tão bem montado que as próprias cartas não se davam conta que ali viviam.

Este coringa depois de muito viver sofrendo pelas perguntas que o importunava, a morte o levou. Mas não por completo. Pois um pouquinho dele ainda estava na terra começando a circular pelas cartas mais rebeldes e curiosas. Ele havia deixado suas próprias perguntas escritas esperando que um dia alguém pudesse respondê-las. O problema é que dentro deste livro não estava apenas seus pensamentos, havia também o vírus que transmitia a doença. Aos poucos a doença foi sendo transmitida, e as cartas que se contaminavam viravam coringas.

Os principais sintomas da doença eram, com certeza, a loucura. Pelo menos era o que se dizia na época. Esses coringas começaram a perceber a importância de se perguntar das coisas mais simples às mais complexas. Assim como o primeiro coringa do mundo, eles tinham dúvidas e começaram a achar respostas, anotando tudo para não serem perdidas com o tempo.

As cartas mais conservadoras começaram a ficar preocupadas com uma epidemia! A forma que tentaram acabar com o aumento do número de contaminados foi matando, prendendo e passando muito medo nos coringas e nas cartas que haviam de ser. Porém, a grande epidemia foi numa época chamada Iluminismo. As regras do jogo iam sendo quebradas, e novas começaram a surgir.

Muito tempo depois, acharam um antídoto para a tal doença, analisando um grupo de pessoas que não eram afetadas. Assim descobriram que o antídoto era a alienação, e com isso as instituições conservadoras espalharam a cura, por meio da mídia, da música, da política.

Nascemos cartas. E somos inseridos numa sociedade controlada como um jogo. Pensamos ser os próprios jogadores, pensamos em ter controle de tudo. Existe ainda na nossa época aquele que prefere viver dentro do jogo, sem enxergar o que realmente está dentro de um. Mas, na verdade, eles ainda não haviam descoberto que dentro de toda carta existia um coringa; o vírus que chamamos de curiosidade, apenas os estimulava. Porque somos movidos pelas perguntas, e a humanidade cresce buscando respostas. Entre todos, entre todas as décadas, as grandes pessoas, aquelas que deixaram marcas depois que partiram, não eram simples cartas. Eram sim, grandes coringas.

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