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Seca Braba

Quando olhei a terra ardendo / Qual fogueira de São João / Eu perguntei oh Deus

João Eurípedes Sabino
Publicado em 26/09/2014 às 21:37Atualizado em 17/12/2022 às 03:30
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“Quando olhei a terra ardendo / Qual fogueira de São João / Eu perguntei oh Deus do céu ai / Por que tamanha judiação?” Há 67 anos, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, cantou em versos a seca braba que assolava e ainda assola o Nordeste brasileiro (!!!). A falta d’água que antes acontecia lá, agora acontece cá. A pomba Asa Branca de Gonzagão e outros pássaros bateram asas do sertão e hoje invadem as cidades.

Estamos vendo nossos mananciais secarem. O Córrego Seco, próximo à empresa Fosfertil, que outrora era um fenômeno isolado, hoje tem vários pares. Represas baixam seus níveis, denunciando que o nosso futuro é sombrio. Nascentes desaparecem e não deixam vestígios, regos d´água somem e córregos volumosos viram filetes. O rio Uberaba, que abastece a cidade, quase seco, não passa de uma finíssima lâmina d’água correndo entre pedras. O Velho Chico começa a morrer. E há quem julga ser uma balela esse negócio de economizar água.

Vamos caminhando para o caos, à medida que as nossas matas ciliares desaparecem e com elas o nosso maior bem: a água. Tenho receio de que a natureza nos cobre nas exatas proporções dos golpes que o “bicho homem” lhe dá. A propósit por que desapareceu a inteligente civilização Maia?

Segundo consta, os Maias viveram na América do Sul até o ano 1000, quando uma estiagem se abateu sobre eles durante 100 anos. Morreram o povo, a natureza, os animais, e o pior, desapareceu a cultura. Nós despareceremos por falta d’água? Não tenho a resposta.

No poema “Puxão de oreia”, o poeta Zé Ninguém, preocupado com a natureza, em versos, chama o homem à responsabilidade e lhe passa uma boa descompostura: “Quarqué dia a chuva acaba / O vento pára de corrê / Nóis vai respirá só fumaça / Sem nada podê fazê. Com o suór do própio corpo / Vamo tê qui si banhá um dia / Puxa! Esse cabôco é um besta! / Vão dizê que eu não previa. Os dinossauro acabaro / Por obra de num sei quem / Se esses bicho existisse agora / Craro! Eles morreria também. O ar a terra e o mar / Tá qui é pura poluição / Quando será qui vão percebê / Qui o qui tá in jôgo é toda a criação!? Cada um fazeno a sua parte / O mundo será miorado / Um a um dá o seu exemplo / E ninguém sai sacrificado.

Para refletir: um ponto situado aqui e outro no infinito, para Deus, estão encostados. A garoa que cai sobre São Paulo é a mesma que umedece Uberaba poucas horas depois, apesar dos quase 500 quilômetros que separam as duas cidades. Lembremos: a água desperdiçada aqui é a mesma que faltará ali ou acolá. E poucos parecem estar preocupados.

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