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Entrevista: Comércio depende de facilidade, acesso e segurança, diz líder da Aciu

O atual presidente da Aciu, José Peixoto, comenta sobre as expectativas depositadas no governador e presidente eleitos

Thassiana Macedo
Publicado em 08/12/2018 às 14:37Atualizado em 17/12/2022 às 16:18
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Jairo Chagas

Para José Peixoto, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Uberaba, as expectativas são as melhores com os governos estadual e federal que começam em janeiro

No próximo dia 16, a Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Uberaba (Aciu) completa 95 anos. A história da entidade começou em 1923, quando um grupo de empresários se reuniu em um encontro que viria a ser considerado, muitos anos depois, como a primeira assembleia de associados. O registro da reunião está eternizado em um quadro do artista Ovídio (1986), fixado na sala da presidência. Para uma entidade classista do interior, chegar a 95 anos não foi uma tarefa fácil, mas, a cada nova diretoria, a Aciu busca se reinventar para continuar representando a classe e sendo a voz do empresariado uberabense. 

Na entrevista deste domingo, concedida ao Jornal da Manhã, o atual presidente da entidade, José Peixoto, aproveita essa experiência para comentar sobre as expectativas depositadas no govenador eleito Romeu Zema (Novo) e no presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), bem como sugerir medidas necessárias para valorizar os empresários que atuam no comércio, na indústria e no setor de serviços de Uberaba. 

Jornal da Manhã – Qual a expectativa do senhor com a entrada de Romeu Zema (Novo) no governo do Estado?

José Peixoto – Para a Aciu, a expectativa é que ele seja um bom governador, porque ele é um empresário de sucesso e está apto a governar bem. Um homem que toca uma empresa com cinco mil funcionários, no mínimo, é capaz. O resto ele terá que ter sorte, porque vai pegar um Estado totalmente morto, falido, com uma esquerda suja colocada no governo e que não será fácil de tirar, mas nós, da Aciu, queremos que ele seja bem-sucedido, para o nosso bem. Principalmente para Uberaba, porque ele teve 85% dos votos uberabenses. Então, nossa expectativa é das melhores possíveis. Apostamos nele de olhos fechados.

JM – Até que ponto o senhor acredita que ele, como governador e com essas características que o senhor citou, poderá reverter a situação de caos financeiro em que Minas Gerais se encontra?

José Peixoto – Existe uma maneira, sim, mas ele terá de lançar mão de coisas que acredito nunca ter usado na vida, como moratória, e terá que atrasar alguns pagamentos, porque não terá dinheiro. A arrecadação do Estado é grande, mas ele está inchado, e resolver isso vai levar tempo. Não há condições de mudar um Estado falido da noite para o dia. Queira Deus que ele consiga avançar no governo dele! Mas tenho certeza que ele vai deixar preparada, para o próximo governador, uma casa bem melhor do que a que ele pegou. 

JM – É bom que tenhamos clareza de que ele não conseguirá mudar tudo... Mas irá iniciar o processo?

José Peixoto – Exatamente, esse processo é lento. Não é como ganhar milhões na loteria e ficar rico da noite para o dia. Não é assim que funciona, isso exige solução lenta e ele sabe disso. E toda pessoa, com o mínimo de esclarecimento, sabe que vai levar tempo, ainda mais levando em conta que ele não vai poder lançar mão do aumento de impostos, porque se ele fizer isso, será ainda mais caótico e irá contra os princípios básicos dele. Evidentemente, também não vamos dar conta, porque a população já está sofrida e não suporta mais essa sobrecarga, que não vai levar a resultado algum. Portanto, isso ele não vai fazer. A verdade é que ele vai ter que coratr bastante e colocar 

JM – Enquanto empresário e dirigente classista, quais as medidas que o senhor gostaria de propor que fossem tomadas para atender aos anseios dos empresários associados à Aciu?

José Peixoto – A medida que nós queremos, ele [Zema] também quer, que é valorizar o empresário. Não existe nenhuma nação no mundo que perseguiu o empresariado e foi bem-sucedida. Então, ele tem que dar oportunidade para que o comerciante e o empresariado como um todo tenham condições de crescer para gerar renda para o Estado e gerar riqueza para a população. Ele sabe disso e acredito que é o que ele vai fazer. O caminho é só esse, enxugar a máquina pública e dar oportunidade para que o empresariado se desenvolva, cresça e venda mais, para que não aconteça o que vem ocorrendo hoje. O governo anterior foi medíocre, subiu os impostos assustadoramente, enquanto víamos os estados vizinhos enriquecendo e Minas Gerais caminhando para a pobreza. E ele não vai fazer isso, porque não é marxista e muito menos medíocre em insistir em um erro tão grande. 

JM – Com relação ao empresariado, tanto o comércio quanto a indústria, há algum ponto específico por onde o senhor acha que Zema deveria começar para ajudar esse segmento a voltar a produzir?

José Peixoto – No comércio, nem temos muito o que falar, pois há muitas empresas que abandonaram o Estado. Temos empresas uberabenses que foram para o Mato Grosso do Sul ou para Goiás, porque não suportaram a diferença de tributos. Com relação à indústria, esse setor sofre todas as situações. Por exemplo, nossa energia hoje é caríssima, sem sentido, porque a geração de energia é barata, ela é produzida por hidrelétricas, e, em função de inúmeras outras coisas, como financiamentos, altos salários e interesses particulares, é que foram aumentando essa taxa. Criaram a taxa de iluminação pública e a empresa paga 500 vezes mais do que quem paga a taxa comum só porque tem luz na sua rua. Isso é perseguição contra as empresas e tem que acabar, porque isso vai gerando pobreza. Nosso Estado e nosso país só vão melhorar quando derem oportunidade para pessoas que gerem riquezas. Esse papo de que tem que achatar e desvalorizar o empresário, como ocorreu nos governos anteriores, é uma mentira enorme, porque é o empresário que gera riqueza. Esse tipo de ideologia marxista tem que acabar, se acabar, o país vai adiante. O Brasil tem tudo para dar certo, pois temos uma agricultura forte, uma indústria pronta para crescer, é só deixar trabalhar. O empresariado hoje é responsável por tudo que há de ruim no país. Se a inflação existe, é culpa do empresário, mas os políticos têm que pôr a culpa em alguém. Se a água está faltando, a culpa é do empresário, se o arroz está caro, a culpa é do produtor, e esse tipo de ideologia criada no governo anterior tem que acabar. É preciso dar oportunidade às pessoas que ainda não são empreendedoras, mas que estão prontas para se tornar empreendedoras e gerar riquezas para município, Estado e nação. 

JM – O senhor comentou que Uberaba teve um peso importante na eleição de Romeu Zema... Que postura a Aciu pode adotar no sentido de cobrar essas mudanças do novo governo?

José Peixoto – Cobrar é muito fácil. Acredito que o que a Aciu pode fazer é dar sugestões, pois não é hora de fazermos cobranças a um governo iniciante e que já vai começar sem nada, cujo caixa está negativo. Temos de nos unir para acharmos um caminho lógico e decente para que ele faça um bom governo. Não somos oposição para cobrar, a Aciu é governo, então, nosso papel é dar sugestões para que o governador faça uma boa gestão e trilhe o melhor caminho, que favoreça a população mineira. Neste sentido, nós estamos prontos para dar a nossa contribuição.

JM – E qual é a expectativa em relação ao governo de Jair Bolsonaro (PSL)?

José Peixoto – Também é de melhorias. Acredito que só o fato de o presidente eleito apoiar a operação Lava-Jato já é um bom sinal. Devemos depositar confiança nele, pedir a Deus para que ele tenha ponderações e que faça um bom governo. Continuar como estava não dá. A população sabe e isso foi comprovado nas urnas, que estamos cansados de tanta corrupção, tanto descaso com estatais todas falidas, gerando mais corrupção. Estamos vendo que ele tem indicado pessoas de boa índole para auxiliá-lo e isso já é um bom começo, e estamos prontos a contribuir também.

JM – Como o senhor vê a redução do número de representantes de Uberaba e região do Triângulo Mineiro em Brasília e em Belo Horizonte?

José Peixoto – Vejo que nossos deputados eleitos são bons e são pessoas que estarão presentes tanto no Estado quanto no governo federal. É o caso do Heli Andrade, que é uma pessoa de grande capacidade, o que já foi comprovado. Ele estará atuante e o que importa é estar do lado da população, e não jogar contra. Tenho certeza que o Heli não vai ficar do lado das leis que firam o empresariado. Quanto ao nosso deputado federal [Franco Cartafina], é excelente. Tivemos algumas perdas, sim, mas Marcos Montes terá um cargo muito importante no governo federal, junto com Bolsonaro, praticamente como ministro. Então, acredito que não vamos sofrer perdas, não. A Aciu tem uma boa ligação com Bolsonaro, que esteve em Uberaba trazido pela associação. Quando um presidente e um governador fazem um bom governo, tudo vai bem e não precisamos exigir nada. E qualidade nem sempre é quantidade, tem 300 que valem por 300 mil, a história fala isso. 

JM – Que avaliação o senhor faz com relação ao comércio de Uberaba? O que precisa ser feito para fortalecer esse segmento?

José Peixoto – O comércio gira em torno do poder aquisitivo da população. Tudo que se fizer para o comércio, ou seja, para o comerciante e empresário, e não se fizer para o povo, não irá adiantar. O comerciante depende do poder aquisitivo da população, que o perdeu e, por isso, não tem dinheiro para comprar. Portanto, o que tem que ser feito é para o povo, o trabalhador assalariado tem que ganhar e ter recurso suficiente para viver bem, mas também comprar roupas, calçados, carro, etc., não através de financiamentos, e sim ter o dinheiro para comprar. Ninguém tira da boca do filho para comprar roupa ou calçado. Então, o trabalhador tem que ter o suficiente para poder comprar, beneficiando o comércio. Isso, evidentemente, depende da União e do Estado. O caminho é a geração de emprego e renda, e o começo está em favorecer o empresário, que vai melhorar o salário do seu empregado. Se matam o empresário, ele não vai ter condições de gerar favorecimento para o trabalhador. Governos passados aumentaram impostos e criaram taxas que não deixarão de ser pagas pelo empresário, mas para isso ele terá que tirar de algum lugar, e o primeiro lugar é na mão de obra. Não tem um empresário no mundo que quer ver seu funcionário mal pago, mas os governos têm que dar condições para que ele pague bem.

JM – Estamos a menos de 20 dias do Natal e, após muitas discussões, estamos vendo a implementação do novo projeto do calçadão. Qual a opinião do senhor a respeito?

José Peixoto – O projeto do calçadão nada mais é do que uma sala bem arrumada. Todo mundo que chega a uma casa e encontra a sala mal arrumada já não se sente bem, mas isso não é a solução. O que resolve é tirar a concorrência desleal. Temos ali um monte de vendedores ambulantes, trombadinhas e gente fumando drogas. Isso tem que sair do centro, para que uma mãe possa levar seus filhos para ir lá passear no calçadão ou para que uma pessoa vá comprar no centro sem correr o risco de ser assaltada. Isso tem que acabar. O prefeito teve uma boa iniciativa de arrumar o calçadão, porque ele estava muito danificado, mas é preciso dar continuidade. Tirar as pessoas que estão ali prejudicando o comércio local, bem como garantir a segurança, caso contrário, não vai dar resultado e o comércio não vai crescer.

JM – O centro comercial de Uberaba já sente os prejuízos da ausência de consumidores em virtude da dificuldade de se encontrar estacionamento, cujo resultado é o fenômeno de migração de lojas para os bairros. O senhor acredita que a implantação do estacionamento rotativo público tarifado reformulado conseguirá reverter esse fenômeno e salvar o centro?

José Peixoto – No passado, estacionava-se até mesmo em cima da calçada. A maior parte dos comerciantes reclamava. Antes se estacionava para todos os lados, sem critério algum, mas não se resolveu o problema e chegou aonde chegou. Proibir o estacionamento no centro pode ter sido benéfico para uma parte, porque os veículos estão fluindo melhor e o BRT também trouxe uma série de melhorias para a população, o que é indiscutível. Outra coisa é que Uberaba é uma cidade estreita, criar o impedimento para que os veículos fluam pela cidade é bem pior. Se criarmos o empecilho na avenida Leopoldino de Oliveira, para que os veículos fluam normalmente, ninguém vai querer passar na avenida e muito menos estacionar. Então, vejo com ponderações nesse sentido. Tem que verificar o que dá certo, com calma, se for preciso, até abrir mão de alguns locais de estacionamento, mas a cobrança já acontece em várias cidades do mundo. O funcionário que sai de casa para trabalhar, nos bancos ou em qualquer comércio, estaciona seu carro no centro, onde ele fica o dia todo parado, até por volta de 18h ou 20h, quando essa pessoa pega o carro e vai para casa, trazendo prejuízo para o comércio. Aquela pessoa que quer vir ao centro e não se incomoda de pagar R$4 a R$5 para estacionar, a fim de fazer uma compra ou um passeio, não vai fazer isso se não houver estacionamento.

JM – Que outras medidas complementares o senhor sugere para resolver este problema e evitar a morte do centro comercial de Uberaba?

José Peixoto – Além da demanda, não existe outra medida. Se fizermos financiamentos para os comerciantes e eles não virem resultado disso, não vai adiantar nada. Para melhorar a demanda é só promover facilidade, acesso e segurança. Ninguém vai a um lugar para correr riscos. Na verdade, acredito que o comerciante, ou seja, o empresário uberabense é um herói. Ele trabalha com muito afinco e dedicação. Se nós acompanharmos a história, que passa pela existência da Aciu, o uberabense é um empreendedor nato. Temos várias grandes empresas que trabalharam muito e estão muito bem, e outras, que foram a pique, merecem mais oportunidade. Aqui tem do sapateiro ao homem que faz sino de bronze, e se o uberabense receber oportunidade, ele vai fazer um avião ou uma fábrica de automóveis. Temos que entender que a Aciu existe há 95 anos, e dentro dessa entidade estão empresários empreendedores que se dedicam ao ideal de servir o município sem receber salário, e o associativismo é uma maneira de conseguirmos algo mais dos governantes em prol da valorização da classe.

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