GERAL

Especialista avalia as implicações psicológicas do jogo Pokémon Go

Profissional afirma que as pessoas estão cada vez mais despreparadas para lidar com o vazio que é inerente à vida humana e, por isso, buscam preencher esse espaço a todo custo

Thassiana Macedo
Publicado em 14/08/2016 às 09:44Atualizado em 16/12/2022 às 17:44
Compartilhar

Reprodução

Embora já tenha causado vários acidentes, se for utilizado com cuidado, o jogo pode gerar benefícios por meio da socialização

Desde que chegou aos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, em 5 de julho, “Pokémon Go” se transformou em um fenômeno. E já era aguardado por fãs brasileiros do desenho e de jogos. O game gratuito de smartphones que usa realidade aumentada e GPS, usa a mesma dinâmica da série de TV: caçar, capturar e treinar os 151 pokémons. Porém, os jogadores precisam levantar do sofá e andar pelas ruas da cidade para encontrar as criaturas. Embora já tenha causado vários acidentes, se for utilizado com cuidado, o jogo pode gerar benefícios por meio da socialização.

Logo que foi lançado no Brasil, no dia 3 de agosto, o jogo já foi baixado por milhares de crianças, jovens e até mesmo adultos. De acordo com a psicóloga Larissa Cruz, muitas pessoas passaram a jogar Pokémon Go por afinidade e por conhecer a série. “Porém, é possível pensarmos, também, no vazio existencial, inerente à vida humana desde os primórdios da humanidade, e que desenvolvemos diversos aparatos para lidar com essa questão. Por isso, passamos a produzir a sociedade ao mesmo tempo que, também, somos produzidos por ela, criando redes sociais, diversas formas de mídia e jogos, como o Pokémon, que tem o seu lado positivo, mas também um aspecto negativo. Depende do que o Pokémon vem preencher na vida desses indivíduos”, avalia.

A especialista destaca que, com o grande avanço tecnológico, criamos uma sociedade maratonista, competitiva, de tempo escasso e com desejos que precisam ser consumados rapidamente. “As pessoas não têm mais preparo para lidar com as pequenas frustrações do cotidiano, sendo que crianças e jovens estão se desenvolvendo assim. As últimas gerações transformaram-se na sociedade do fast-food e geração miojo, ou seja, tudo tem que ser rápido. Os desejos nascem e precisam ser consumados rapidamente, o que acaba gerando diversas doenças. Desenvolvem-se sujeitos ansiosos, menos preparados para lidar com o tempo, com a espera e com ‘nãos’. E vemos que as convivências estão sendo afetadas, ficando cada vez mais superficiais e com mais exigências de imediatismo do outro”, destaca Larissa.

Ela lembra que, antigamente, as pessoas suportavam a espera de cartas, que venciam grandes distâncias até chegar ao seu destino, enquanto hoje os indivíduos se desesperam quando o destinatário visualiza uma mensagem enviada pelo WhatsApp, mas não responde no mesmo instante, gerando um sentimento de rejeição. “As pessoas estão cada vez mais despreparadas para lidar com esse vazio que é inerente à vida humana. Por isso, elas buscam preencher esse vazio a todo custo, criando e consumindo produtos, meios de comunicação e ideais do ‘eu’ para preencher esse espaço. E mesmo com toda essa busca, o que se percebe é que esse vazio está cada vez mais insaciável. É necessário um trabalho interno para que o sujeito encontre algo que dê sentido à sua vida, uma realização”, completa Larissa Cruz.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por