ARTICULISTAS

Na minha vida não há águas represadas

Nós humanos não temos a liberdade dos pássaros

Juarez Alvarenga
Publicado em 15/11/2012 às 21:00Atualizado em 19/12/2022 às 16:17
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Nós humanos não temos a liberdade dos pássaros, que voam sem fronteiras e sem alturas. A vida nos impõe limites. Cabe então desprender o possível das agruras dos entulhos que a existência no decorrer nos castiga acumulando em nosso cíclico vivencial.

Aprendi que não existem histórias humanas sem pedras no caminho das águas.

Confesso que, como um dique, contive águas represadas substancialmente, criando uma visão míope de suas profundezas. A sujeira acumulada na superfície impede de ver com clareza seu fundo onde estão as soluções.

Retirar o barro acumulado e cristalizar as águas é um processo lento, porém necessário. Muitas vezes retemos as águas por conveniência ou comodismo vivencial.

A monotonia dos problemas impregnada em nós só se liberta se criarmos uma ebulição consistente de nosso eterno aprendizado existencial.

As águas, como nós, têm suas histórias e sua libertação das camadas robustas só acontece lentamente, porque nós humanos impregnamos definitivamente aquilo que por natureza deveria ser transitório.

Reter as águas é um ato instintivo e explodir os muros é um ato de inteligência e de exatidão existencial. Agredir as concretudes das pedras é deteriorar em fragmentos os funestos cercos contidos com avançar da vida.

Nós humanos não existimos se dentro de nós os nossos horizontes estiverem retidos na monotonia das águas estagnadas. Se muitas vezes a vida nos cerca, esta mesma existência nos encarregará de nos libertar. As águas represadas só irão fluir naturalmente com alavancas impulsionando com intensidade suas saídas.

Devemos ter a força interior de um Sansão, porque só esta é capaz de, através dos fragmentos, abrir orifícios, e estes se encarregarão de retirar totalmente as pesadas pedras com as quais insistem morar definitivamente em nossos caminhos.

Não acredite que a vida não tenha fronteira. Aprenda a ultrapassar, e se isto parecer impossível, fabrique uma bomba atômica íntima que irá destruir, deixando em cacos os obstáculos retidos. Somente assim seu mar interior fabricará ondas gigantescas e sobre seu impulso enxergará horizontes bem mais distantes.

Por minha experiência vivencial, quando as águas começarem a paralisar, cabem a nós percebemos e de imediato acionar nosso Tsunami íntimo. Se não der resultado, vou para o fundo do mar. E depois do Tsunami morrer, começo a nascer com o despontar do sol, totalmente liberto das excessivas águas represadas no decorrer de nosso complexo cíclico existencial.

(*) Advogado e escritor

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