No decorrer da história muitos muros foram construídos tanto para proteger moradores dentro deles de ataques exteriores..
Muros invisíveis
No decorrer da história muitos muros foram construídos tanto para proteger moradores dentro deles de ataques exteriores como para dividir povos, territórios. O mundo e principalmente quem presenciou sua queda nunca se esquecerá do muro de Berlim que dividiu, durante 28 anos, os alemães em orientais e ocidentais. Mesmo com a queda do muro de Berlim, muitas pessoas não acreditam que existam hoje, barreiras e muros que dividem fisicamente povos, pessoas, territórios, principalmente por acreditarem no alcance da tecnologia que veio para “destruir barreiras”. Será? Estranhamente, todos nós conhecemos o muro de Berlim, mas atualmente, nem todos conhecem e realmente se importam com o muro da Cisjordânia ou com o muro que separa os
Estados Unidos do México, ou o muro que divide Coreia do Sul da Coreia do Norte, entre muitos outros.
Mas o que quero nos levar a pensar aqui é em relação aos muros invisíveis que não são construídos por pedras, mas utiliza-se o mesmo argumento para os muros físicos, de que servem para a proteção. Esses muros que nós construímos em volta de todos nós são erguidos por meio dos seguintes materiais: certezas, ideologias, preconceitos, dogmas, entre muitos outros. É utópico pensar que esses materiais não vieram da cultura, da família, do meio no qual estamos inseridos. Entretanto cabe a nós mesmos resolver o que fazer com eles. E o que fazemos na maior parte das vezes é construir esse muro ao nosso redor. Às vezes não percebemos o tão grave é essa construção e a reparação dele com os radicalismos e intolerâncias. O muro com certeza nos produz uma zona de conforto, mas nos impedem de olhar o que está de fora. De ouvir e respeitar o que é diferente.
Somos guiados a pensar que temos que saber e ter opinião sobre tudo. É vergonho falar que não sabemos de algo. Porque a tecnologia nos proporcionou saber de tudo com um clique. E pode ser usada realmente para o conhecimento. O problema que usamos frequentemente de uma maneira superficial e muitas vezes duvidosa. Mesmo assim, já é o suficiente para nos tornamos especialistas. Assim nosso muro é abastecido, com informações, opiniões que apenas reforçam as nossas certezas e não, que nos fazem duvidar. Já que nosso muro é forte, porque impede que entremos em contato com o diferente, mas ao mesmo tempo é frágil, porque qualquer opinião contrária que abala nossas certezas tememos que o muro desmorone.
Talvez seja por isso que quando abrimos uma brecha no muro para ouvir uma pessoa com pensamentos diferentes, nós transformamos o que era para ser argumento em frases de ódio. A discussão que poderia trazer para ambos os lados, dúvidas e a busca por novas respostas, se torna algo violento e intolerante. Por isso, talvez nos relacionamos mais facilmente com quem pensa e age como nós. Como nas redes sociais, não curtimos e compartilhamos o diferente. Nosso compartilhamento se restringe àquilo que consegue passar pelo duro filtro do nosso muro. A maior contradição que vivenciamos hoje é: Nunca vivemos em um mundo tão livre. Ainda assim, construímos entre nós muros ao invés de pontes.
(*) Julia Castello Goulart