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Micro-história

Não é preciso ser historiador para observar que a produção historiográfica produzida no Brasil

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 04:02
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Não é preciso ser historiador para observar que a produção historiográfica produzida no Brasil, principalmente nos últimos dez anos, passou por mudanças significativas. O surgimento de revistas especializadas, a constante adaptação de textos de história para a televisão, o lançamento de livros com temas pouco explorados (como é o caso da obra de Jean-Luc Hennig, Breve História das Nádegas, publicado pela editora portuguesa Terramar) exemplificam essas mudanças.

Entre todas essas mudanças, as mais inquietantes dizem respeito ao surgimento daquilo que chamamos de Nova História Cultural, que tem sua origem no fim da década de 1920, na França. Essa nova forma de se interpretar os fatos históricos busca fugir da história historicizante: uma história que se furta ao diálogo com as demais ciências humanas, a antropologia, a psicologia, a linguística, a geografia, a economia e, sobretudo, a sociologia.

Outro aspecto importante: a Nova História Cultural quer também se aproximar das massas anônimas e, por isso, revela uma especial afeição pelo informal, por análises historiográficas que apresentem caminhos alternativos para a investigação histórica, indo onde as abordagens tradicionais não foram.

Uma nova possibilidade de investigação histórica, a micro-história, surge como parte do elenco de mudanças epistemológicas que acompanharam a emergência da Nova História Cultural.

A abordagem micro-histórica orienta-se, sobretudo, pela preocupação de afirmar que todos nós fazemos parte da história. Defende, o micro-historiador, a tese de que não existe um fato histórico mais importante (ou mais relevante) do que outro. Para isso, os acontecimentos locais, nos quais há uma redução da escala de investigação, passam a ser vistos com a mesma importância de um acontecimento cuja escala é maior.

Do ponto de vista metodológico, a micro-história avança nas pesquisas historiográficas por romper com a prática calcada na retórica e na estética. O trabalho da micro-história tem-se centralizado na busca de uma descrição mais realista do comportamento humano, empregando um modelo de ação que possa dar voz a personagens que, de outra maneira, ficariam no esquecimento.

Dessa forma, o historiador de orientação micro-histórica, amparado pelos conceitos da Nova História Cultural, pode “enxergar” acontecimentos imperceptíveis à historiografia tradicional e trazer à tona dados que estavam adormecidos. Portanto, sua análise é mais democrática.

Outro aspecto importante da investigação micro-histórica diz respeito às fontes que o historiador utiliza para realizar seu trabalho. A partir de uma análise mais localizada, é possível incorporar novos “documentos” e, por intermédio deles, representar eventos do passado. É nesse contexto que a fotografia, as letras de música, as narrativas orais, por exemplo, passaram a ser objetos de análise dos historiadores.

Quem acompanha minhas análises históricas já percebeu que é nessa direção que procuro seguir. Ao analisar fatos históricos da nossa cultura local, procuro compreendê-los, levando em conta sua dinâmica própria, inserindo-os na malha social que lhes deu origem. Assim é possível dar-lhes o peso exato que possuem.

(*) doutorando em História pela Unesp/Franca; professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira e da Facthus

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