Poucas vezes vi na vida analogia tão própria e pertinente para o post mortem quanto a que me apresentou...
Poucas vezes vi na vida analogia tão própria e pertinente para o “post mortem” quanto a que me apresentou o conhecido uberabense Sidney Pires, cidadão presente no cotidiano da cidade. É frequentador assíduo do nosso Mercado Municipal, tem assunto para tudo e sabe muito de muitos uberabenses.
Pontua Sidney: “Da vida nada levarei a não ser o resultado das coisas que fiz. O resto fica aqui e ninguém é capaz de fazer o contrário. Minha mãe, Francisca Pires, nascida em 18/10/1925 e falecida em 08/09/2005, já está cuidando da nossa lanchonete instalada no subsolo do Cemitério Candongas, na Quadra R, número 178”. Não é difícil entender que a lanchonete é uma sepultura e o subsolo, a terra bruta.
Realmente, da vida nada se leva, tanto que caixão não tem gavetas e, se tivesse, adiantaria enchê-las? A “lanchonete do Candongas”, de Sidney, não tem sucos e guloseimas e, se tivesse, a quem serviria? Por que então não a nomear de outra coisa, digamos, porão. É que, segundo ele, lanchonete sugere lugar alegre, aonde se vai para comer e espairecer.
Interessante é lembrar que, até o último instante da vida, costumamos vislumbrar um espaço amplo onde iremos morar depois da morte. Não perdemos a mania de grandeza aqui, esquecidos de que ocuparemos só alguns centímetros além das dimensões que possuímos. Ou seja, imaginamos um megabar, quando o que nos espera é uma pequena lanchonete, segundo Sidney Pires.
No cemitério não há melhor e nem pior.
Ali nos igualamos.
(*) Engenheiro, escritor, fundador do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro