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Inveja e admiração

Estimado leitor, a boa convivência começa na admiração e termina na inveja.

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 04:31
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Estimado leitor, a boa convivência começa na admiração e termina na inveja. Seja na família, no trabalho ou com amigos. O desafio, em todos esses ambientes, é tornar preponderante o clima de admiração e extirpar as invejas. O problema é que a linha que separa uma da outra é, por vezes, demais tênue e, em muitas ocasiões, seus limites são trespassados. Mas, é necessário tentar descobrir uma maneira de distinguir a inveja da admiração. Antes de prosseguir, permita-me contar uma pequena historieta, cujas versões são inúmeras. Apresento o que de essencial elas trazem. Em certa ocasião, dois amigos, Pedro e Antônio, que viajavam de uma cidade a outra, encontraram pelo caminho uma lâmpada mágica. Pedro a esfregou, e, como não poderia deixar de ser, de dentro dela saiu um gênio que não lhe restringiu os pedidos à quantidade máxima de três, como era de costume nessas ocasiões.   Disse-lhe que poderia solicitar tudo o que bem entendesse, quantas vezes fosse, sem limitação de absolutamente nada. No entanto, havia um pequeno detalhe, uma única condiçã o gênio concederia a Antônio, que até aquele momento tudo observava, os mesmos pedidos em quantidade duplicada. Pedro não teve dúvidas e ordenou ao gênio que lhe furasse um olho.   Ao fazer tal pedido, Pedro revelou que, antes de admirar o amigo, sentia por ele o mais mórbido dos sentimentos humanos: a inveja, contrário absoluto da admiração.   Tanto invejosos quanto admiradores desejam possuir aquilo que o outro tem. Mas ao invejoso não basta conseguir ter o objeto invejado. É fundamental que aquele que o possui deixe de possuí-lo. A inveja pressupõe a destruição, no outro, do objeto desejado. Caso contrário, o invejoso não se satisfaz.   Na admiração, por seu turno, não há a necessidade de tomar do outro o objeto amado. Quem admira, percebe-se também incompleto, tal qual aquele que inveja, sem, entretanto, precisar destruir o que é do outro. O admirador não se orienta pelo ideal de exclusividade, e é por isso que a boa convivência tem na admiração sua matéria-prima.   Percebe-se, perfeitamente que, quando as pessoas não se admiram, o clima que se instala é o da competição predatória. Por isso, em ambientes assim os erros são mais evidenciados do que os acertos. Reparem: há pessoas que são incapazes de reconhecer os acertos dos outros. Quando o fazem, nunca os atribuem à competência do outro e, sim à sorte, ao acaso, etc.   Já num clima marcado pela admiração, soam, em maiores decibéis, os acertos. É claro que os erros acontecem e é preciso tratar deles. Mas dá-se mais importância para aquilo que as pessoas fazem de melhor, tornando a cooperação e a ajuda mútua a tônica das relações entre esses sujeitos. Os invejosos não enxergam os acertos do outro e celebram, com muita intensidade, cada equívoco cometido. Os admiradores, antes, comemoram cada acerto e fortalecem, em caso de equívocos, os laços de solidariedade.   Há grupos de pais invejosos, amigos invejosos, colegas de trabalho invejosos, maridos e mulheres invejosos. Há grupos de pais admiradores, amigos admiradores, colegas de trabalho admiradores, maridos e mulheres admiradores. A diferença entre eles está no fato de que o segundo constrói relações humanas saudáveis, onde as pessoas crescem e desenvolvem, na plenitude, seus potenciais. Já no primeiro grupo, as relações humanas são marcadas pela desconfiança e pelo individualismo.   (*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira e da Facthus; [email protected] Mozart escreve aos domingos neste espaço           

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