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Ilha

Sonhar, filosofar, pensar e transgredir conceitos pré-estabelecidos tem sido um delicioso

Marília Andrade Montes Cordeiro
Publicado em 14/02/2015 às 20:49Atualizado em 17/12/2022 às 01:26
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Sonhar, filosofar, pensar e transgredir conceitos pré-estabelecidos tem sido um delicioso exercício, em meus dias de ócio criativo e sem culpa.

No vendaval da mudança de casa, deparei-me com um estudo sobre John Donne, poeta inglês do século XVI ou XVII, não sei bem.

“Nenhum homem é uma ilha isolada” – disse ele.

Nos idos dos anos 70 eu cursava literatura inglesa, com os ótimos professores da Fista, e nesse estudo eu fazia uma veemente e sólida defesa dessa ideia.

Hoje, já vivida, não me tornei uma metamorfose ambulante, mas entendi que somos artífices do nosso próprio destino. E essa compreensão traz consigo toda uma carga de transformação. Se para o bem ou para o mal, já não sei dizer.

O fato é que já não concordo tão inteiramente com John Donne.

Na verdade, tenho sentido que cada ser humano tem se transformado numa ilha.

Talvez estejamos num mar comum.

Mas, há tempos temos educado nossos filhos e a nós mesmos para nos bastarmos e darmos conta de nossa vida moral, espiritual e financeira.

Quando muito, recorremos a um bom psiquiatra ou psicólogo para ajudar.

Se já começamos enfrentando a travessia do nascimento e da morte sozinhos, então devemos aprender a viver sem ser um fardo para aqueles que nos cercam.

Pode ser que no limiar do nascer/morrer, tenhamos ajuda, mas quem se lembra, ou quem nos garante? Nada a não ser a fé. 

E minha fé na humanidade anda mais que tudo estremecida. Na eternidade me delicio...

Sombras negras e pessimistas rondam nosso mundo!

Notícias chocantes de atrocidades cometidas contra seres humanos, muitas vezes em tenra idade, nos conduzem ao desespero e à reflexão. Ou viramos avestruzes, e escondemos a cabeça...

No entanto, as cenas se sucedem numa velocidade relâmpago e, embora lamentando com um suspiro resignado, voltamos ao nosso Brasil.

E por aqui também a coisa está cinzenta. E não é o cinza dos 50 tons...

É o cinza do pessimismo que se alastra, até entre os jovens.

Cinza do desgoverno em todos os setores, de empresas que refazem as contas e demitem, de pessoas apocalípticas que só enxergam o caos.

A discórdia se instala em proporções tsunâmicas. Há um triste clima no ar e uma cobrança generalizada. Todos culpando o outro e aguardando o pior.

Que me desculpe John Donne, mas acho que vou me transformar numa ilha isolada. Não sucumbirei ao pessimismo. Como uma cavalheira quixotesca, vou esculpir a felicidade na minha ilha e pode ter certeza: vou aprender a voar nas tempestades.

Não deixarei que minha ilha morra envenenada por gases tóxicos.

Adoro dialogar comigo mesma e saciarei minha fome diária com ideias e sensações que me preencham a alma. A felicidade mora na mente de quem a cria.

(*) Mãe de família

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