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Igrejinha

Maria Aparecida Alves de Brito
Publicado em 25/12/2013 às 16:38Atualizado em 19/12/2022 às 09:40
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  Não me lembro com certeza quantos anos eu tinha quando fiz minha primeira comunhão com Deus. Mas me lembro de que era bem criança, deveria ter uns sete ou oito anos, não mais. O dia da semana que tinha catecismo era muito bom. As crianças iam chegando aos poucos e enquanto esperávamos por dona Belinha, corríamos alegres por entre os bancos e as colunas da igreja. Na sacristia era proibido entrar. Era o local onde eram guardadas as hóstias sagradas, o vinho e os parâmentos de padre Nicolau. Com dona Belinha aprendemos a orar, a respeitar os pais e os mais velhos. A não revidar as ofensas, a ter humildade para pedir perdão e convir que erramos. Sua voz era calma e suave, seus gestos tranquilos, seu olhar tinha um brilho diferente, legítimo, como a pescar almas para o Senhor. No dia de confissão, fazíamos uma pequena fila, sob a orientação de dona Belinha, e íamos pensando nos pecados cometidos durante a semana, para confessá-los ao padre. Aquele momento para mim era crucial. Eu achava, na minha cabecinha de criança, que eu não tinha nada para contar a não ser que tinha respondido para minha mãe e brigado com meus irmãos. E sempre repetia a mesma história. A penitência era pequena e vinha sempre acompanhada de bons conselhos. Eu me sentia aliviada e feliz por ter sido perdoada, como se fosse tão simples mesmo, e voltava a brincar no pátio da igrejinha. Era assim que eu a via. Hoje a cidade cresceu, o bairro é o segundo mais populoso da cidade, e a minha igrejinha, caiada de branco, cresceu junto para comportar os inúmeros devotos de Nossa Senhora das Graças. Casei-me ali, não poderia ter sido diferente. Meus filhos receberam os sacramentos do batismo pelas mãos de padre Nicolau. Meu filho mais novo teve a mesma sorte que eu tive. Encontrou no Colégio Marista Diocesano a educadora humanista Silvana Elias e guiado por suas mãos fez sua primeira comunhão. Hoje, meu filho é um homem de fé, um homem de bem que consegue ter um olhar diferenciado às pessoas que sofrem. Nestes tempos difíceis em que se aproxima o Natal de Jesus, senti um enorme desejo de contar um pouco destas passagens de minha infância. Do silêncio que reinava na hora das orações, do perfume que emanava dos incensários na Missa do Galo rezada na voz carregada de sotaque de padre Nicolau. Homem de sentimentos nobres que serviu a Deus com dignidade e fé. E quando Jesus precisou dele para levar suas palavras a outras paragens, parecia que faltava um pedaço de nós. Fazíamos parte de um tempo em que cultivávamos o amor e o apego às pessoas. As crianças modernas estão inseridas num contexto onde estes ensinamentos e sentimentos já não são prioritários. Está faltando ensinar a fé que direciona vidas, que dá sentido a existência. Grande parte dos jovens de hoje não têm perspectiva de futuro. Se entregam às drogas e ao sexo prematuro não compreendendo as causas e consequências de seu comportamento. Mas penso que nunca é tarde para calçarmos suas sandálias Jesus, e trilharmos seus caminhos. Para amarmos os pequeninos como o senhor verdadeiramente os amou, para termos espírito solidário. Nunca é tarde para estendermos mãos fraternas e ajudá-Lo na recriação da humanidade como um dia fez conosco padre Nicolau, dona Belinha e Silvana Elias. Mas, a parte mais importante desta empreitada deve começar pelos pais que é a primeira referência de vida que uma criança tem. Desejo a todos um Natal cheio de saúde e paz, com a certeza de que é possível acreditarmos que habitamos um planeta caminhando para a evolução.    Maria Aparecida Alves de Brito Pedagoga, Especialista em Educação Especial  

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