Em março deste ano, morreram ou desapareceram, no terremoto seguido de tsunami no Japão
Em março deste ano, morreram ou desapareceram, no terremoto seguido de tsunami no Japão, cerca de vinte mil pessoas. E os moradores das cidades destruídas conseguiram reaver mais de 3,6 bilhões de ienes, cerca de 76 milhões de reais. Vigora naquele país o princípio da honestidade: “O seu, ao seu dono!”
A polícia conseguiu identificar 85% dos proprietários do dinheiro encontrado nos escombros por equipes de resgate e por cidadãos. (A maior parte desse valor estava em 5.700 cofres; 26 milhões de reais estavam em carteiras ou bolsas.) Um cidadão, por exemplo, recuperou seus 100 milhões de ienes, cerca de 2 milhões de reais, que guardava em um cofre.
São dignas de nota a atitude e a atuação do povo japonês diante de tragédias. Citemos como exemplo a notícia de que, em uma semana, uma estrada destruída pelo tsunami foi totalmente refeita. Sem correria, desordem ou saques por parte da população, o povo se juntou às autoridades para reerguer o país, com ordem e trabalho.
Em nosso país, por enquanto, os noticiários têm sido, em geral, desanimadores: denúncias de conduta indevida no exercício de função pública indicam o desvio de dinheiro público para bolsos particulares. Não é pouco o dinheiro e não são poucos os envolvidos.
Também foi descoberto um esquema de sonegação de impostos que, em princípio, acarretou um prejuízo de um bilhão de reais para os cofres federais. Talvez o mesmo valor possa ser alcançado em tributos sonegados aos Estados e Municípios.
Uma tragédia provocada por intensas chuvas, em janeiro deste ano, fez o Estado do Rio sofrer danos de monta. O governo federal destinou substanciosa verba para a recuperação das cidades. Mas, em Teresópolis, uma das mais atingidas, o prefeito foi afastado do cargo, acusado de embolsar 20 milhões de reais da verba recebida. O vice-prefeito morreu, vítima de infarto, dois dias depois de tomar posse como prefeito. Assumindo o cargo, o terceiro prefeito tem agora muito serviço à sua frente.
O respeito ao bem alheio, que, em geral, vigora no Japão, não é comum a alguns brasileiros. Ou, pelo menos, a certas cabeças coroadas, que deveriam, no mínimo, zelar pelo bem público.
Felizmente, homens de bem têm descoberto e denunciado a desonestidade, que tem sido noticiada e coibida. E se nós, o povo brasileiro, temos conseguido essa façanha, é porque a honestidade ainda é um princípio seguido pela maioria de nós. E jamais desistiremos dessa ideia.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro