ARTICULISTAS

Falando de obsessão e compulsão

Medos e preocupações fazem parte do nosso dia-a-dia, não é ? Aprendemos a conviver com estes temores tomando certos cuidados como fechar as portas à noite, lavar as mãos higienicamente

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 22/10/2009 às 20:14Atualizado em 20/12/2022 às 09:56
Compartilhar

Medos e preocupações fazem parte do nosso dia-a-dia, não é ?

Aprendemos a conviver com estes temores tomando certos cuidados como fechar as portas à noite, lavar as mãos higienicamente, e tendo outras atitudes cuidadosas e responsáveis. Entretanto, essas mesmas ações e preocupações podem se tornar bastante excessivas quando repetidas inúmeras vezes em curto espaço de tempo, sendo ainda acompanhadas de grande aflição, comprometendo rotinas e desempenho profissional.

Preocupações excessivas com higiene, com fechaduras, com organização de objetos, com contagens desnecessárias, podem indicar sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo.

Pessoas que sofrem o transtorno não podem pensar no que estão fazendo, apenas o fazem e sentem que precisam continuar a fazer. Uma característica da compulsão à repetição é o fato de se repetir de formas diferentes, sem nenhuma consciência de que se está repetindo um conteúdo similar, o que constitui um dos fatores de sua recorrência continuada. Assim,  o importante é o elo não reconhecido entre o comportamento e seu conteúdo. O conhecimento deste elo permitiria à pessoa entrar em contato com o conteúdo que está sendo constantemente repetido e elaborá-lo. Se isto não acontece, só resta a ela repetir o conteúdo, como num pesadelo recorrente que nunca encontra uma solução.

O ato repetitivo se torna obsessivo quando a pessoa tenta voltar à cena que deseja. Isso acontece quando a memória não a satisfaz, ou falha. Pulsão e compulsão são elementos da mente e ocorrem em diferentes intensidades e momentos da vida. Alguns perdem o equilíbrio emocional de forma muito grave, no entanto, não é o que acontece com a maioria, em que os danos não são excessivos. Todos temos condutas restritivas, mas a compulsão é diferente, ela é o excesso de um determinado comportamento que está associado à descarga de tensão, de dor, de compulsão.

Como a dor psíquica não pode ser experimentada, ela é canalizada para a ação motora: a compulsão. Significa um agir angustiado, repetitivo, intenso, obsessivo, e que resulta na anestesiação da dor, transformando-a em dor corporal. O que é psíquico é vivido no corpo, como físico. Na verdade, o corpo vem em socorro da mente, entra em cena para protegê-la de uma dor psíquica insuportável .

Nem sempre temos uma mente suficientemente forte para suportar uma dor, um sofrimento, ou porque a mente encontra-se frágil, com estafa, ou porque a dor é grande demais, um trauma.

Neste contexto, o que ocorre é uma tentativa última de evitar o aniquilamento psíquico diante da dor. A pessoa desenvolve uma série de recursos intrinsecamente relacionados, que lhe garantem não o conforto, mas a sobrevivência, que é uma  acomodação possível e não uma solução.

A grande dificuldade desses distúrbios são as complexas nuances da existência que ocorrem quase despercebidamente para a maioria das pessoas, e são experimentadas diariamente, e a solução mágica e hipomaníaca encontrada é anestesiar-se na conduta compulsiva ou na desafetação.

Indivíduos portadores do transtorno repetem ações ou comportamentos realizados sem que tenham consciência de que estão repetindo.

(*) psicóloga clínica

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por