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Falando de dinheiro e emoção ainda

Falta tempo na vida para realizar tudo várias vezes e aprender com os erros? A tendência de preferir obter uma pequena quantidade de dinheiro imediatamente

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 17/09/2009 às 20:05Atualizado em 20/12/2022 às 10:33
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Falta tempo na vida para realizar tudo várias vezes e aprender com os erros?

A tendência de preferir obter uma pequena quantidade de dinheiro imediatamente, em vez de valor maior depois, pode ser um dos fatores que torna o ato de economizar difícil para tanta gente. “Guarde mais depois”. O fato de as pessoas começarem pagando menos e aumentarem uma poupança gradativamente é uma proposta que parece funcionar pela mesma razão por que somos seduzidos por oferta de “sem entrada”.

Podemos desenvolver uma relação mais equilibrada com o dinheiro?

O dinheiro torna as pessoas mais auto-suficientes e mais propensas a se esforçar para atingir seus objetivos, mesmo que para isso precisem se isolar. Sob a ótica socioafetiva podemos até desaprovar esse comportamento, mais inegavelmente ele é útil para a sobrevivência. A habilidade para distinguir que há normas que se aplicam a cada situação é importante para guiar nosso comportamento, o que evita, por exemplo, que você aja com excesso de confiança em meio a uma negociação competitiva ou que cometa o erro de oferecer um pagamento inadequado para um amigo. Quando mantemos normas sociais e de mercado em caminhos separados, a vida flui bem, mas, quando elas colidem, surgem os problemas.

Comumente, crises financeiras podem levar à perda de controle emocional, depressão e redução da expectativa de vida. Numerosos estudos em psicologia descobriram uma permuta entre a busca de aspirações extrínsecas – como riqueza, fama e imagem – e as intrínsecas, como construção e manutenção de relacionamentos pessoais fortes. Geralmente, pessoas em foco nas aspirações exteriores a elas, apresentam pontuações mais baixas nos indicadores de saúde mental. Os que são fortemente motivados pelo dinheiro têm mais dificuldade de manter relações afetivas estáveis. Isso não significa que não deve haver nenhum foco em aspirações, todos precisam de dinheiro e de fato há áreas importantes da vida governadas pelas normas de mercado.

Estudos demonstram que os indivíduos que se sentem rejeitados ou são submetidos à dor física ficam menos propensos a conceder prêmio em dinheiro durante um jogo, proposto logo depois da experiência desagradável. Pesquisadores constataram também que experiências de lidar com dinheiro pode reduzir o estresse associado à exclusão social e diminuir desconfortos físicos.

Outra constatação após pesquisa cerebral voltada ao comportamento econômico, foi a percepção de que pessoas, com capacidade reduzida de perceber e interpretar emoções, de si e dos outros, também têm enorme dificuldade para escolher entre prós e contras de um produto.

Dinheiro e emoção?

Confiar nas pessoas com quem fazemos negócios provoca intensas reações cerebrais. Nos que acreditam em seus parceiros, o córtex pré-cingular, uma área que analisa o próprio comportamento e as ações presumíveis do outro, mostra-se mais ativo. O sistema límbico também apresenta atividade aumentada no septo, onde é controlada a liberação dos hormônios vasopressina e oxitocina, que regulam o comportamento social.

Sentimento e economia? Os economistas precisam incluir em suas pesquisas o órgão que faz opções: o cérebro.

Durante muito tempo economistas reforçaram o valor da racionalidade e negligenciaram a influência das emoções, no que diz respeito às decisões que envolvem finanças. Viam no consumidor um ser absolutamente racional, que ponderava egoisticamente os custos e benefícios de suas opções para sempre aumentar o próprio lucro. Essa imagem, porém, tem algumas limitações, pois fatores emocionais como confiança e justiça influenciam nossas escolhas, no mínimo, com a mesma intensidade e importância.

Os sentimentos não apenas influenciam nossas decisões, como não conseguimos resolver nada sem a ajuda das emoções.

(*) psicóloga clínica

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