Evangelizar

Todos sabemos que a missão da Igreja, conforme a ordem de Cristo, é evangelizar. É esta a tarefa principal que Jesus deu aos discípulos, como lemos no Evangelho de Lucas (4,18). A conhecida passagem é como o testamento de Cristo à sua Igreja. Portanto, a ordem recebida é a de comunicar a verdade. A semente atirada à terra do coração não cresce como simples planta que se enfeita de flores e vem carregada de frutos. Esta semente faz germinar a fé que cintila e brilha. O homem que crê, vive na luz que a presença divina traz ao coração.

         Além de semear a verdade, a missão tem outra finalidade: comunicar o amor. A sociedade competitiva, violenta, cravejada de ódio precisa deixar-se tocar pela envolvente onda de paterno afeto de Deus e engolfar-se na paz que a presença divina traz ao coração.

         Nossa missão de discípulos do Senhor é despertar a esperança nos que desanimaram no caminho, sem capacidade de novamente enxergar a luz que nos ilumina. É que os olhos se acostumaram com a escuridão. A missão do discípulo de Cristo é a de ser portador e comunicador da verdade, do amor e da esperança. Comunicador – eis a missão que o Senhor nos deu.

Os meios, de que dispomos para essa tarefa, em primeiro lugar é a palavra. Os sábios antigos ensinavam que a palavra, que soa fora nos ouvidos do corpo, é sinal da palavra latente do escrínio do espírito.

         Ela – a palavra, comunica a ideia. Às vezes, a palavra é convincente e ardorosa como de Paulo apóstolo; outras vezes, elegante e bonita, como de São João Crisóstomo; suave, como a de São Bernardo; profunda e penetrante, como de Lacordaire. Muitas vezes, é simples e despojada como de São João Vianney; graciosa como de Terezinha de Lisieux; instrutiva e sapiente como de Bento XVI. A palavra que o homem diz, revela o que tem dentro de si.

         Também há gestos que comunicam e evangelizam, como o abraço que acolhe e as mãos que acariciam. Também os olhos, estas duas janelas da alma, podem falar. Projetam o que os lábios não conseguem dizer. Quantas vezes riachos que escorrem pelos sulcos do rosto são recados de Deus; são vozes silenciosas que esvaziam tristezas. Os olhos sabem falar...

         Não podemos esquecer que há os que sabem comunicar-se pelo silêncio, sempre fecundo e eloquente, porque eleva e abre espaço para ouvir a Deus. Muitos têm medo do silêncio porque não sentem a coragem de entrar dentro de si. O silêncio é uma voz misteriosa que nos leva a ouvir a voz de Deus.

         Se nossa missão na Igreja é comunicar a Verdade do Evangelho, o Amor e a Esperança, será grave omissão, culpável por certo, não se dedicar a este ministério essencial. Pior ainda, traí-lo.

(*) membro da Academia deLetras do Triângulo Mineiro