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Eu queria ser médico

O grande teólogo dominicano, Padre Yves Congar, que deixou uma valiosa obra teológica, nos narra que “aos nove anos queria ser médico”. Quando, criança ainda, fez a primeira comunhão

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 11:47
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O grande teólogo dominicano, Padre Yves Congar, que deixou uma valiosa obra teológica, nos narra que “aos nove anos queria ser médico”. Quando, criança ainda, fez a primeira comunhão. Sua piedosa tia quis dar-lhe um presente e perguntou-lhe o que queria. Se fosse brasileiro, por certo teria pedido uma bola de futebol ou talvez, infelizmente, um uniforme do Corinthians... mas não. Pediu um microscópio! Tinha apenas dez anos e prenunciava ser mesmo médico.

Mas, após a guerra de 14-18, vendo a miséria dos prisioneiros e dos pobres, veio-lhe a ideia do sacerdócio, já na quase entrada da adolescência. Ele conta o vazio de outras coisas que então sentia, quando clareou a ideia de ser padre.

Daí para a frente, encantava-se, ao recitar o cântico de Zacarias (Lc 1, 68-79) no versícul “Tu, menino, serás profeta do Altíssimo; irás à frente do Senhor para preparar-lhe o caminho”. Ao terminar o curso do Seminário Menor, foi aluno de Maritain e do dominicano Padre Blanche no Instituto Católico de Paris. Encantou-se com a espiritualidade da Ordem dominicana e embebeu-se com a atmosfera de intelectualidade e de serviço à Verdade. Assim se fez dominicano.

Ao relatar sua Ordenação Sacerdotal em julho de 1930, iluminou-se com sua tríplice vocaçã sacerdotal, dominicana e ecumênica. E no decorrer de sua longa e frutuosa vida de mestre em teologia, deixou valiosa obra teológica e, como teólogo do Concílio Vaticano II, teve brilhante e silenciosa atuação no documento “Lúmen Gentium”.

Por que esta extemporânea lembrança de Padre Congar num simples artigo semanal? Veio-me esta inspiração por ter tido nossa Arquidiocese, há poucos dias, a felicidade de ordenar cinco novos sacerdotes para o serviço de nosso povo. Uma ordenação suscita lembrança de grandes sacerdotes do passado.

Cada padre – novo ou velho – tem uma história pessoal diferente, com um denominador comum: o chamado silencioso, mas cativante de Deus nas oiças atentas da alma. 

Se tivéssemos a oportunidade de conhecer a história de cada um dos cinco neo-sacerdotes, teríamos por certo as mais lindas confidências sobre como foi que o Senhor os chamou para o seu serviço, que é o anúncio do Evangelho e a administração da graça.

Assim como o padre Congar, que em criança, queria ser médico e Deus o quis teólogo e padre, cada sacerdote tem a história do seu chamado, isto é, do sussurro da voz divina, que um dia o levou para a beira do altar, apesar de, em criança, ter tido sonhos de outras coisas.

É assim o mistério da vocação, que se faz história na vida sacerdotal de cada um de nós.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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