Insensível! Será que estou me transformando a ponto de me tornar egoísta? Lutei a vida toda...
Insensível!
Será que estou me transformando a ponto de me tornar egoísta?
Lutei a vida toda por ideais coletivos e de repente me sinto relutante, individualista, voltada para meus próprios conflitos, e família?
Onde é que ficou perdida aquela mulher idealista, humana, vibrante, que não aceitava injustiças, que comprava brigas dos outros quando os via fragilizados?
Será essa fase é fruto de amadurecimento ou é o cansaço gerado por incontáveis frustrações?
Todas essas indagações me queimaram as têmporas e pestanas nessa semana que estou passando em BH.
Nossa capital, embora não tão perto, presente e ligada aos triangulinos, me acolheu carinhosamente nos últimos 10 anos.
Aqui sempre me senti livre, leve e liberta. Ando por suas ruas a pé, ando de tênis e roupa de ginástica, da Savassi até o Mercado Municipal.
E observo o vaivém dos pedestres, carros e da vida.
Reparar e captar a energia de cada um que passa apressado, momentaneamente domina meu universo.
Por suas vibrações sinto seus desejos, angústias, frustrações, raivas e alegrias.
Mergulho-me nesse mar de emoções.
Cada um de nós é uma ilha vivendo num mar comum, já filosofei!
Mas agora tudo mudou. Já não sinto as almas. Só vejo espectros humanos, pobres indigentes drogados, frustrados e aproveitadores em potencial.
E meu coração se fecha e se arma.
Perdeu-se a cordialidade do Mineiro.
Fica-se em guarda para qualquer tipo de diálogo, atenção ou informação.
- Onde fica a Secretaria...?
- Desculpe! Não sou daqui.
- Dona, me dá um dinheiro pra comida?!
Sei que não é para comida, mas quero ficar livre. E meus olhos rapidamente procuram uma loja como abrigo. Quero voltar para casa!
Não fui só eu que mudei! A cidade também está sentindo a deterioração mórbida e letárgica que domina nosso país.
Acho que estou tendo uma crise de pânico.
Relaxe! Aceite! Nem você deve se curvar diante do mundo e nem tão pouco o mundo mudará aos seus desejos.
Ligo para a amiga de todas as horas:
- “Socorro! Me leve para os braços de Dionísio, com aquele sorriso de orgia e que me livrará de toda essa angústia!”
Não posso mudar meus sentimentos, mas por enquanto tenho que atrofiar essa sensação de impotência.
Depois me curo do êxtase e da ressaca com muita meditação e yoga.
Deixo o projeto de minha vida para o cosmos.
Quem sabe ainda voltarei a assumir posições mais concretas?! Irei até o fim.
Amanhã, penso nisso! Sou mineira, uai.
Mas hoje quero, preciso mergulhar nesse estranho prazer da vertigem!
(*) Mãe de família