Folheando velhos cadernos de anotações sobre a vida cristã, encontrei algo de "Fêtes et Saisons" sobre certas devoções e julguei bom lembrar algumas idéias, que podem ser úteis para nossos leitores.
Devoção vem do latim "devovere". É uma atitude interior e espiritual da pessoa que deseja exprimir a Deus seu amor, acatamento e a própria fé. No fundo, a criatura quer assim expressar ao Criador sua filial dependência. As devoções, pois, não são práticas mágicas destinadas a nos preservar de malefícios e catástrofes, mas meios para exprimir o nosso amor e nossa fé.
Numerosas são as devoções que nos são propostas, tanto antigas como novas. Cada geração cristã sente a necessidade de exprimir sua fé de uma maneira pessoal. E temos a necessária liberdade de escolher livremente as devoções que nos parecem mais adaptadas ao nosso temperamento, à nossa sensibilidade.
O papel da Igreja é guiar a nossa escolha, desaconselhando algumas formas errôneas e acolhendo outras, sem contudo impô-las. Quando a Igreja aprova uma forma de devoção, está apenas mostrando que ela é apta a reavivar a fé e a caridade.
Note-se ainda que rezar aos santos, nossos irmãos que nos precederam, é bom, mas é a Deus que nossa fé se dirige, pois só Ele é a fonte da graça, que pedimos quando rezamos. Mas é necessário lembrar, nesta altura, o valor insubstituível da Palavra de Deus que nos ilumina, nos encoraja e dirige.
Não parece inútil frisar também que a criatura humana tem necessidade de exprimir a sua fé por meio de representações materiais. Não somos puros espíritos. Nossa sensibilidade está estritamente ligada à nossa vida espiritual. Por isto temos necessidade de um mínimo de imagens sensíveis que ajudem nossa psicologia a subir para as coisas do alto. É normal que o cristão de hoje busque expressar sua fé através de símbolos que signifiquem algo para a psicologia moderna.
Felizmente, não obstante o que dissemos conforme a psicologia humana, necessitada de sinais sensíveis, hoje grande número de cristãos descobriu o sentido dos valores eclesiais e comunitários e aprendeu a amar a Bíblia, sobretudo o Evangelho. A piedade hoje se exprime melhor nos quadros das assembléias litúrgicas, dando preferência à Palavra de Deus. Voltamo-nos assim atualmente das devoções à Devoção.
(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
