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“Caricatura da Igreja”

Recente discurso do Santo Padre apontava pretensão de quem, “em vez de se inserir na comunhão com Cristo, no Corpo de Cristo que é a Igreja...

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 04:40
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Recente discurso do Santo Padre apontava pretensão de quem, “em vez de se inserir na comunhão com Cristo, no Corpo de Cristo que é a Igreja, cada um quer ser superior ao outro e, com arrogância intelectual, quer fazer crer que ele seria o melhor... Assim nasce uma caricatura da Igreja” (20.II.09).

Nestes dias últimos, muitos escreveram atacando grosseiramente a Igreja nos jornais e alguns chegaram até a manifestar o desejo de afastarem-se dela. É necessário compreender e aceitar que a Igreja não é invenção humana, embora constituída de criaturas humanas. Quem a criou foi o próprio Cristo, o que não é novidade para quem conhece os Evangelhos.

Sua doutrina e seus mandamentos estão na Bíblia sagrada, sobretudo nos Evangelhos. Os dez mandamentos não são imposições dos homens, mas determinação divina, como se lê no Êxodo (20, 2-17) e no Deuteronômio (5, 6-21). Por ser lei divina o respeito que se deve ter à vida, é a razão por que não se pode tirá-la de ninguém.

A Didaqué, o mais antigo manual de vida cristã, datada aproximadamente do ano 90 da era cristã, já preceituava: “Não matarás o embrião por aborto e não farás perecer o recém-nascido” (2, 2).

Destas documentadas citações, é fácil perceber que a ilicitude de tirar a vida de um ser humano, mesmo ainda por nascer, não é imposição da Igreja, mas lei explícita de Deus. E se o Direito Canônico coloca uma pena eclesiástica – a excomunhão – sobre quem consciente e deliberadamente efetua um aborto (cânon 1398), é precisamente em decorrência do preceito divin “Não matarás”. Lamentável erro dos jornais dizerem que, neste caso, é o Bispo que excomungou. Não. É o Direito Eclesiástico que, independente da autoridade episcopal, impõe a pena “ipso facto” a quem comete o ato do aborto, com o efeito desejado.

Os “argumentos” e os ataques à Igreja, o desejo de que ela seja diferente na doutrina e nas suas leis mostram claramente uma “caricatura da Igreja” na qual seja lícito fazer todas as loucuras, até tirar a vida nascente, sem normas, sem que ninguém tenha o direito de dizer-lhe que isto é contra a lei divina. Um ideal de Igreja, que não seria mais a de Cristo, onde cada um faz o que quer e inventa o que lhe apraz.

Os fatos recentes e a repercussão negativa que houve indicam o nível de consciência moral de grande parte da população. Entristece. Se quisermos ir mais fundo e com mais clareza, o grito de revolta não é contra a Igreja, mas contra a própria lei de Deus, que nos mandou respeitar o dom divino da vida, mesmo que ainda não tenha nascido. Não se pode querer uma “caricatura da Igreja”, mas, sim, uma Igreja, como a descrita com singular beleza de imagens, pelo Apocalipse: “esplendorosa qual pedra de jaspe cristalino, cujas muralhas e alicerces são recamados de pedras preciosas”, é a esta Igreja que queremos sempre pertencer, apedrejada violentamente nestes últimos dias, como há tempos não se via. A serena entrevista do Arcebispo de Recife nas páginas amarelas da última Veja merece ser lida e meditada.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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