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Caprichos e complexidades da memória - III

Memória e sono? Outra complexidade? É durante o sono que as memórias são cultivadas, algumas se conservam, outras se perdem. A construção da memória

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 20/08/2009 às 21:00Atualizado em 20/12/2022 às 11:05
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Memória e sono?

Outra complexidade?

É durante o sono que as memórias são cultivadas, algumas se conservam, outras se perdem.

A construção da memória depende muito desse período em que o cérebro tece a trama da subjetividade e oferece respostas a problemas que nos afligem.

O sono nos apresenta respostas porque enquanto estamos dormindo tranquilamente, o cérebro está ocupado processando informações coletadas durante a vigília. Ele repassa as memórias recém-formadas, as ordena e as grava de forma que façam sentido no dia seguinte. Uma noite de sono pode tornar essas impressões mnênicas mais resistentes, permitindo recuperá-las no futuro.

Além de fortalecer nossas lembranças, durante o sono o cérebro examina os dados novos e seleciona aqueles que vai guardar.

O sono também pode salvar os conteúdos emocionais de uma imagem, um som, um cheiro.

É também durante o sono que o cérebro estabelece relações entre as memórias de toda a vida, identificando a essência de cada fato e formando aquilo que chamamos de aprendizado.

A relação entre o sono, a memória e a aprendizagem é relativamente nova na história da ciência.

O cérebro não descansa enquanto dorme, mas está em franca atividade.

O sono é fundamental para aperfeiçoar a memória.

Para entender como isso acontece, é interessante sabermos que ao se codificar informações no nosso cérebro, a memória recém-captada está apenas começando uma longa jornada durante a qual será estabilizada, aprimorada e qualitativamente alterada, até atingir apenas uma vaga semelhança com sua forma original. No decorrer de algumas horas, ela pode se tornar mais estável, resistente a interferências de lembranças conflitantes. Em períodos mais longos, o cérebro parece escolher o que é importante recordar e o que não é. É assim que vamos construindo nossa história individual.

Mas os efeitos do sono sobre o que lembramos não estão limitados à estabilização. Vários estudos demonstraram a sofisticação do processamento da memória durante o sono, no decorrer dos últimos anos. Na verdade, parece que enquanto dormimos nosso cérebro pode dissecar nossas lembranças e guardar apenas detalhes mais relevantes.

A atividade cerebral noturna internaliza conhecimentos.

Foi observado que, quando pianistas aprendiam uma nova partitura, eles repetiam as partes difíceis várias vezes, até que os movimentos se tornassem quase automáticos. Parte desse processo de internalização depende do sono. Um estudo de ressonância magnética funcional feito em 2005, mostrou que quando as pessoas dormiam depois de aprender a teclar sequências complicadas, regiões diferentes do cérebro participavam no controle do pressionamento de teclas.

Quanto mais se pesquisa o assunto, mais se percebe que o cérebro está longe da inatividade, enquanto dormimos. Está claro que o sono pode consolidar memórias por meio de seu aprimoramento e estabilização. Perca uma noite, e as memórias do dia podem ser comprometidas – uma constatação perturbadora em uma sociedade onde a privação de sono se alastra em proporções alarmantes.

O processamento da memória parece ser a única função do sono que exige do organismo estar realmente adormecido, isto é, que ele se encontre alheio ao que acontece ao seu redor.        

O sono tem um papel relevante na evolução das memórias afetivas.

(*) psicóloga clínica

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