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Caprichos e complexidades da memória - 2

A memória é caprichosa. O fato de revivermos situações vividas anteriormente, que nos causaram mágoas ou ferimentos, com toda a sua carga emocional, é um capricho da memória.

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 13/08/2009 às 19:25Atualizado em 20/12/2022 às 11:13
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A memória é caprichosa.

O fato de revivermos situações vividas anteriormente, que nos causaram mágoas ou ferimentos, com toda a sua carga emocional, é um capricho da memória.

Você se lembra de tudo o que lhe aconteceu ontem?

Você já foi traído por sua memória, esquecendo-se de algo realmente muito importante?

Como é possível lembrar-se detalhadamente de seu aniversário de 07 anos e esquecer-se do que fez ontem às 13 horas?

Como é possível montar uma pesquisa ou um trabalho e esquecer-se da data de sua entrega?

Estes também são caprichos da memória.

Todos lembramos onde estávamos e o que fazíamos quando tomamos conhecimento da morte de Michael Jackson. Muitos de nós recordaremos vivamente, anos mais tarde, deste fato, assim como de algum acontecimento feliz de nossa vida, como, por exemplo, um determinado aniversário, ou o casamento, ou o nascimento de entes queridos.

A fidelidade da gravação e sua persistência são notoriamente menores quando se tratam de memórias menos importantes ou chamativas.

Segundo Sérgio Luís Schmidt, médico e psicólogo, professor atuante de Neuropsicologia e Neurofisiologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, existem a memória implícita e a memória explícita.

A memória implícita é aquela que armazena hábitos e procedimentos, sendo utilizada para executar atividades motoras em geral que não atingem a consciência, como, por exemplo, andar de bicicleta.

A memória explícita é aquela encarregada de verbalizar determinado fato, tornando-o evocável e atingível pela consciência. A capacidade de construir narrativas autobiográficas, isto é, o fato de o indivíduo ser capaz de narrar fatos sobre si mesmo é o principal exemplo de memória explícita.

A memória tem a sua complexidade.

Conforme o psiquiatra e psicanalista Sérgio de Paula Ramos, do Rio Grande do Sul, presidente da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e Outras Drogas, o palimpesto ou blackout é o transtorno de memória mais frequente relatado pelos pacientes. O palimpesto caracteriza-se por uma amnésia que pode durar horas, sem perda da consciência. É um fenômeno relacionado aos efeitos agudos do consumo de bebida alcoólica. É como se fosse retirada uma parte da memória do sujeito e, durante essa fase, é possível que o indivíduo se envolva em brigas ou homicídios, não se lembrando de nada no dia seguinte.

E quanta bebida é necessária para que uma pessoa chegue ao blackout?

Algumas pessoas metabolizam o álcool mais rapidamente que outras. A mesma quantidade de álcool ingerida por dois indivíduos diferentes pode gerar concentrações diferentes de álcool no sangue, dependendo do metabolismo hepático de cada um. A mesma concentração de álcool no sangue em dois indivíduos pode causar efeitos agudos diferentes, conforme a tolerabilidade de cada um.

Pacientes de algumas lesões específicas causados pelo etanol têm perda de memória total ou parcial.

Alterações das funções da memória têm causado impacto nos alcoolistas e estimulado mudanças de comportamento. Estudos indicam que pessoas alcoolistas têm dificuldade de aderir aos medicamentos e aos tratamentos indicados e que a memória danificada pelo álcool contribui para impedir que a pessoa tente ou consiga parar de beber.

(*) psicóloga clínica

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