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Carnaval – Uma Obra Aberta

No ano de 604 (século VII d.C.), o papa Gregório I instituiu a “Quaresma”, período de 40 dias...

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 14/02/2018 às 12:05Atualizado em 16/12/2022 às 06:24
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No ano de 604 (século VII d.C.), o papa Gregório I instituiu a “Quaresma”, período de 40 dias para que os fiéis se dedicassem ao jejum e a privações, lembrando o período que Jesus passou no deserto. Só em 1091 (século XI d.C.) a Igreja resolveu fixar a data da Quaresma. Como havia o costume de se marcar a testa dos fiéis com as cinzas de uma fogueira em sinal de penitência, deu-se o nome de quarta-feira de Cinzas ao início do período de abandono dos prazeres, que deveria ser um ciclo de meditação sobre o martírio de Jesus e sua ressurreição.

Ao criar a Quaresma, a Igreja Católica instituiu o “Carnaval”, pois a perspectiva de ficar muitos dias sem comer carnes e gorduras, visto que durante a Quaresma os fiéis deveriam comer apenas peixes, fez com que a sociedade católica se organizasse para aproveitar ao máximo os últimos dias de prazeres mundanos antes de dar “o adeus à carne”.

O carnaval foi introduzido no Brasil pelos portugueses, com o nome de entrudo (introitus, começo, entrada), nome com que a Igreja Católica designava as solenidades litúrgicas que antecedem a Quaresma. Do século XVI até o século XIX existiu o “entrudo”, festa brutal e alegre. Não havia diferenciação nas comemorações do norte, centro e sul do Brasil.

Água, farinha, fuligem, goma, eram lançados nos transeuntes. Água molhava famílias e ruas inteiras, em plena batalha. Criados, outrora escravos, carregavam as bilhas, latas e cântaros para suprimento dos patrões empenhados na guerra. Depois, o entrudo admitiu formas mais doces, com as laranjinhas de cheiro e garrafinhas de borracha com água perfumada.

O primeiro baile de máscaras, inspirado em modelo europeu, foi realizado no Rio de Janeiro em 1840. Já o primeiro desfile de carros alegóricos aconteceu em 1854, também no Rio, sob o patrocínio do escritor José de Alencar.

No fim do século XIX, a compositora e pianista carioca Chiquinha Gonzaga compôs “Ô abre alas”, hino para o cordão “Rosas de Ouro”. Foi a primeira música criada exclusivamente para o carnaval.

Anos depois, impulsionados pela popularização do rádio, o samba e a marchinha incrementaram o repertório dedicado à maior festa brasileira. Composições ingênuas, bem-humoradas, maliciosas e satíricas, assinadas por grandes nomes, como Haroldo Lobo, João de Barro e Lamartine Babo, tomaram de vez as ruas e os bailes.

Com a invenção das marchinhas brasileiras, do samba e do frevo, tudo mudou de figura; o carnaval levantou as massas e virou festa nacional.

No século XX foram se fixando diferenças marcantes entre os carnavais de Recife e Olinda, de Salvador e do Rio de Janeiro. Em Recife surgiu o Frevo, inventado pelos mestres das bandas militares pernambucanas. Em Olinda, os Bonecos Gigantes dão um toque peculiar às comemorações carnavalescas. Na Bahia, Dodô e Osmar inventaram a guitarra baiana, eletrificando a folia de Salvador e criando o Trio Elétrico, que arrasta uma verdadeira onda humana por onde passa. O que as pessoas ignoram é que a invenção da guitarra baiana se deve ao violonista uberabense Benedito Chaves, cognominado “Guru”, que emprestou seu violão elétrico para Dodô estudar o mecanismo de funcionamento e aperfeiçoar a emissão do som, livre de reverberações. No Rio de Janeiro, os Desfiles das Escolas de Samba são o ponto alto das comemorações populares. Em quase todos os lugares elegem-se um Rei Momo e uma Rainha do Carnaval.

O grande carnaval, meganegócio, é relativamente recente. O que se percebe é que, atualmente, muito se perdeu da espontaneidade popular, por influência da indústria de consumo.

De qualquer modo, o carnaval tornou-se a maior festa de cunho popular do Brasil. O folclore e a indústria de consumo coexistem e interferem nos rumos dessa história, mas o fato é que o povo cria novas formas de extravasar sua alegria, permanecendo senhor absoluto dos festejos de Momo e tornando o carnaval uma obra aberta.

Olga Maria Frange de Oliveira

Pianista, professora, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba, ex-diretora geral da Fundação Cultural de Uberaba

 

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