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Querido Diário, hoje não vou escrever sobre o que aconteceu hoje, mas em que estou pensando

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 06/01/2015 às 19:45Atualizado em 16/12/2022 às 03:42
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Querido Diário, hoje não vou escrever sobre o que aconteceu hoje, mas em que estou pensando hoje. A vida é uma interminável revelação e permanente descoberta. Quando menino, já faz tempo, chamava-me atenção o caderno em que uma irmã todos os dias redigia. Recorri um dia à minha mãe e perguntei do que se tratava. Disse-me que era um Diário, onde se anotam acontecimentos, reflexões, pensamentos para ficarem registrados. Aproveitando o ensejo da minha indagação, retirou um livro da estante e me entregou. Era o Diário de Anne Frank. Falou-me que, lendo, eu iria compreender o significado de um Diário. Pude ver um relato de atrocidades, sofrimento, martírio, atitudes abomináveis, mas também percebi a fé, a esperança, a ilusão e a força de superação humana na narrativa de uma jovem que inocentemente pagava pelos horrores da Segunda Guerra e do nazismo. Mais de uma quadra de século após, eis que meu filho, à época adolescente iniciante, cedeu-me um livro que ganhou de uma colega, chamado o Diário de Zlata, escrito por Zlata Filipovic. Tratava-se da vida em plena guerra da Bósnia e mais uma vez a história se repetia. Outra jovem que, não diferente de Anne, experimentou a saga trágica para sobreviver com a esperança de um mundo melhor de sonhos e fantasias inerentes a uma adolescente. Como disse no início, a vida é uma interminável revelação e permanente descoberta. Em dezembro passado, ganhei um livro, o Diário de Bitita. Não tinha ideia do que se tratava, mas sabia que estava diante de uma revelação e descoberta, intrigado por não conhecer ainda a história de Carolina Maria de Jesus, que nasceu em Sacramento-MG, em 1914. Saber sobre sua vida e obra, mesmo que tardiamente foi um grande presente que recebi do meu amigo e prefeito de Sacramento, Bruno Cordeiro, um entusiasta de sua terra e de sua gente. Diário de Bitita tem a ver com os outros dois, Anne Frank e Zlata. É a narrativa de uma jovem que viveu e venceu a guerra velada da discriminação, do preconceito, da pobreza, da ignorância e das mazelas dos excluídos. Diário de Bitita, para mim, ratifica as palavras de Tolstoi: “se queres ser universal, canta tua aldeia”. E assim será Carolina Maria de Jesus em prosa e verso.

(*) Engenheiro

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