Vida de princesa – Era pra ser outra

As grandes famílias reais promoviam, de tempos em tempos, reuniões que favoreciam as apresentações entre primos, despertando simpatias que poderiam transformar-se em conhecimento e futuras relações afetivas. Nestes momentos, a idade semelhante determinava os grupos. Sophia Arquiduquesa da Áustria e Ludovica da Baviera eram irmãs e mães de Francisco José e Elisabeth, respectivamente.

Os jovens se conheciam e Elizabeth correspondia com Maximiliano, irmão mais novo do futuro imperador. Essas trocas de correspondências eram facilitadas entre os primos. Quando chegou a época ideal para se pensar num casamento real, Sophia preferiu a sobrinha conhecida, que estava há muito tempo sendo preparada em termos de educação e regras de etiqueta – Elena. As irmãs combinaram encontro durante um período de férias, no castelo de Bad Ischl. Nessa época, Sissi demonstrava interesse num rapaz da nobreza e sua mãe resolveu levá-la também para a festa de aniversário do imperador Francisco José da Áustria, o que afastaria o pretenso namorado, mantendo Sissi disponível para a família.

A viagem até o Castelo foi turbulenta e as carruagens se distanciaram, atrasando o comboio, o que resultou na chegada de apenas uma, sem as bagagens importantíssimas para as apresentações formais, objetivo final da mesma. O primeiro encontro do imperador com sua pretendente aconteceu de forma inapropriada. Elena se apresentou cansada, com roupas empoeiradas e pretas, por causa do luto. Já Sissi, que não estava comprometida às apresentações, estava livre e à vontade.

Essas apresentações se formalizariam em uma situação social, um grande baile, e assim a corte conheceria sua nova rainha pela entrega de um buquê, feita pelo próprio imperador. Qual não foi a surpresa de todos quando ele faz a entrega solene a Sissi, e não à sua irmã mais velha, Elena. Para essa foi uma humilhação solene e pública; para Sissi, um choque duplo – a tristeza perceptível de Elena, ao sentir a rejeição imperial com destruição de sonhos e castelos construídos a partir do início dos preparativos, e ela própria, com a ruptura imprevista na sua própria vida. Sua primeira reação foi dizer não às pretensões de Sua Alteza Real, e foi alertada por sua mãe ao dizer que “não se diz NÃO ao pedido imperial”. Desde então, iniciou-se um tempo preparatório intenso, tentando sanar as lacunas de sua formação, a ela que prezava sobremaneira a liberdade, os bosques, as caminhadas e as cavalgadas... As relações das irmãs ficaram tensas e ambas tiveram dificuldades de adaptação aos novos planos e perspectivas de vida. No entanto, os austríacos se maravilharam com este Conto de Fadas, que se desenrolava estabelecendo com esta menina/rainha de 16 anos, muito bonita e elegante, uma relação mítica, que permanece até os dias atuais.

Ilcea Borba Marquez

Psicóloga e psicanalista

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