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O muito ainda é pouco, muito pouco

Por mais que tenhamos nos debruçado sobre este tema: depressão/melancolia ainda é pouco! Encontramos referências às reflexões freudianas sobre a depressão e a melancolia

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 09/09/2009 às 19:25Atualizado em 20/12/2022 às 10:42
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Por mais que tenhamos nos debruçado sobre este tema: depressão/melancolia ainda é pouco! Encontramos referências às reflexões freudianas sobre a depressão e a melancolia desde suas cartas ao amigo e confidente intelectual, Fliess, isto é, desde 1892. Já então, Freud aproximava a depressão e a melancolia através do afeto de luto presente em ambas as situações. Se o afeto do luto se verifica nas situações de perda real de uma pessoa por morte ou separação e, se ele está presente tanto na depressão quanto na melancolia podemos assegurar que tanto uma quanto a outra envolvem perdas e faltas: anseio por alguma coisa perdida. O efeito que produz é o de uma inibição psíquica, com empobrecimento pulsional e dor.

Dentre os seguidores de Freud, foi Abraham quem deu importante contribuição, quando partindo também da comparação entre depressão e melancolia ao afeto do luto, acrescentou-lhes o ódio. Para ele a depressão e a melancolia contêm uma tendência para negar a vida: “a impossibilidade de gratificação do objetivo sexual gera o sentimento de não ser amado, aliado ao de ser incapaz de amar; o desespero e a negação da vida.” (Peres) Abraham observou em cada caso analisado que “a doença procedia de uma posição de ódio, que estava paralisando a capacidade amorosa da pessoa.” Analisando a vida como vazia de sentido, nada mais do que um engodo ou ainda como um quadro sem tela, apenas uma moldura, o sujeito inicia com os dizeres auto-nominados: não posso amar as pessoas; tenho que odiá-las e, em seguida pelo mecanismo da projeçã não sou amado, sou odiado. Algumas outras palavras também se encaixam nesta experiência depressiva: sinto-me como se estivesse morta, ou ainda minha vida não tem nenhum sentido - palavras que confirmam o luto, o desespero e o ódio.

Posteriormente, Lacan ao retomar conceitualmente o desejo inexoravelmente vinculado à falta estendeu a experiência de luto à estruturação egoica, ou seja, à estruturação da condição humana, universalizando a melancolia como essencial ao aparelhamento psíquico do homem. “Para fazer o enfrentamento mais radical com a falta e por ser visionário do vazio da vida é este homem que pode se colocar aberto à invenção”. É na destruição total que se pode encontrar uma vontade de recomeço; é na maldade como inerente ao humano, que se pode vislumbrar a luta feroz pela vida e pelo amor.

(*) psicóloga e psicanalista

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