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Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 20/12/2022 às 18:53Atualizado em 26/12/2022 às 22:56
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É neste mês de dezembro que acontece o “Transtorno afetivo sazonal”, também conhecido como “Síndrome do final do ano” – ansiedade, estresse, pânico, dores musculares, dificuldades para dormir e alimentar, aumento nos índices de suicídio, em especial entre viúvos e saudosistas. Também constatamos pioras nos quadros existentes de transtornos mentais, mas não se verifica necessidade de introdução medicamentosa. Tal como o próprio nome indica, este transtorno é sazonal e diminui ou desaparece no mês seguinte. Não é um problema clínico.

Vamos focar nosso país, que enfrentou surto pandêmico com restrições de movimento e relacionamento sob a máxima do “Fique em casa”, juntamente com a obrigatoriedade de uso preferencial das comunicações remotas e não presenciais, quando até mesmo os membros de uma mesma família deveriam isolar-se em quartos ou cômodos individuais, abolindo assim a área comum a todos, como a sala de jantar ou de visitas. Durante meses seguidos, a população recebia orientações quinzenais de extensão do tempo necessário de isolamento até a diminuição do número de infetados, mesmo não havendo, ainda, número ou casos oficiais de infecção. Uma época de exceção incompreensível para muitos, ao povo só restava confiar cegamente nos governadores ou responsáveis técnicos pela saúde pública, assentados que estavam sobre o medo da morte comum a todos. Só depois de um ano podemos pensar os significados da pandemia, mesmo porque é um fantasma ainda assombroso, que continua ameaçando.

Depois desse desastre, deu-se início a um período eleitoral dicotômico e agressivo, fruto da polarização antagônica entre dois grupos definidos e inconciliáveis sob a égide de dois líderes definidos e definitivos. Entramos neste mês de dezembro já esgotados afetivamente, tendo que participar de ações já em si mesmas ansiogênicas. Este dezembro nunca passou tão rápido e de forma tão desastrosa. Mas o que traz este mês, em si só, de tantas consequências? É o fim do ano e tempo de Natal; é a entrada de um novo ano! Fim e recomeço, morte e renascimento!

Tempo de avaliar o já vivido e de planejar o porvir. Dá para perceber a dificuldade de avaliar e planejar.

Os programas exibidos nos comerciais ou filmes de dezembro mostram pessoas se preparando para as festas, reencontrando amigos e familiares, preparando os cenários de muitas alegrias e festividades com vários rituais para cada dia em contagem regressiva. Arrumar a casa, preparar os cardápios, decorar as árvores, retirar os enfeites guardados e dar a eles vida nova, comprar novos presentes para comemorar o que permaneceu relembrar o perdido. São lembranças de velhos tempos e velhas alegrias. Muita tristeza e dor relembrada, muitas lacunas para serem preenchidas, muitas novas oportunidades em aberto. Tudo pode reiniciar!

Ilcea Borba Marquez

Psicóloga e psicanalista

 

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