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Aquarius – O Filme

Assim que o filme terminou, tive certeza de que se ele fosse enxugado, tivesse cenas cortadas...

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 14/09/2016 às 21:30Atualizado em 16/12/2022 às 17:20
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Assim que o filme terminou, tive certeza de que se ele fosse enxugado, tivesse cenas cortadas, ele seria mais palatável na medida em que cenas repetitivas ou desconexas do texto central seriam eliminadas. Aliás, este filme antes mesmo do seu lançamento já estava provocando atitudes contraditórias de repúdio e aceitação decorrente do protesto em Cannes sobre o momento histórico/político brasileir milhões e milhões de brasileiros se sentiram incompreendidos e mal interpretados! Talvez esta tenha sido, por outro lado, sua mais eficaz publicidade!

O que se destaca neste filme, em todos os sentidos, é o personagem principal e a intérprete insuperável – Clara, vivida por Sônia Braga. O enredo se desenrola em torno dela: uma jornalista viúva e aposentada, no auge dos seus 65 anos de idade, que nos anos setenta passou pela experiência de um câncer mamário com toda ciranda de procedimentos amplamente conhecidas – quimioterapia, queda de cabelos e cirurgia deformante.

No decorrer das cenas assistimos à repetição monótona do dia a dia de uma viúva aposentada e sua ajudante doméstica que, tendo o mar à sua frente, vai à praia, faz compras e vive pressão para vender seu apartamento no Edifício Aquarius, o único que resiste ao assédio dos compradores ansiosos por executar o projeto grandioso de um belo e luxuoso “arranha-céu” com todas as conquistas atuais da engenharia moderna. O projetista: um jovem e ambicioso herdeiro recém-chegado de especializações feitas no exterior - a expressão viva do jovem voluntarioso e imediatista, adaptado ao tempo do aqui/agora, acostumado a ter todas as suas vontades satisfeitas frente àquela viúva que resiste ao seu desejo.

O foco é a mulher na sua evolução social, apesar de alguns tropeços: em 1980 comemora-se o aniversário de 70 anos da tia Lúcia, também jornalista e sempre na vanguarda dos movimentos libertatórios femininos, como a revolução sexual dos anos sessenta, que ela viveu em 1940 ao escolher tórrido relacionamento amoroso/sexual com um homem casado. As cenas sexuais representadas tinham como meta o prazer feminino, a não ser na orgia masculina/capitalista usada como forma de persuasão à venda do AP. Clara é a avó de 65 anos que deseja e compra a companhia masculina/jovem para satisfação do corpo ao mesmo tempo em que frequenta o aniversário da sua ajudante, comemorado na laje da casa em bairro popular. Os homens são coadjuvantes ou opositores. Durante o decorrer do filme ela enfrenta sozinha os capitalistas, e a família só aparece para fortalecê-la nas cenas finais, quando ela encerra com as seguintes palavras: atualmente eu prefiro dar um câncer do que ter um câncer!

(*) Psicóloga e psicanalista

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