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Fábrica de Cimento Ponte Alta – Uma história de 60 anos (Parte 2)

Gilberto Rezende
Publicado em 23/07/2022 às 18:07Atualizado em 18/12/2022 às 20:57
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A quota gentilmente oferecida foi prontamente subscrita em apenas uma semana. Destaca-se que entre os uberabenses a subscrição de maior vulto foi realizada pelo pecuarista Sr. Lamartine Mendes dos Santos e, de Conquista, pelo também pecuarista Sr. Theodulfo de Rezende.

Neste sentido, a firma Carvalho & Teixeira & Cia. Ltda. – Casa Carvalho tornou-se o ponto de apoio em todas as relações e operações com o comércio local. As encomendas destinadas à construção, que chegavam via ferroviária em Uberaba, eram encaminhadas à Casa Carvalho e, em seguida, por sua ordem, enviadas ao canteiro de obras da fábrica na localidade de Ponte Alta.

As turbinas, fornos e outros equipamentos de grande porte, que igualmente vinham por via ferroviária, eram encaminhados para a Estação de Erial da Companhia Mogiana e de lá transportados por caminhões até o canteiro de obras.

Na oportunidade, Arthur Magnino desempenhou importante papel em Erial para o embarque dos equipamentos e transporte até Ponte Alta. Havia grande resistência dos fazendeiros da região, que queriam impedir a passagem das máquinas por suas estradas.

Relata Pedro Silveira que foi Pedro Joaquim da Silveira que forneceu terras para a retirada da matéria-prima, possibilitando a evolução de Ponte Alta e de uma parte do país.

Conta Genivaldo Oliveira que foi o seu pai, o maquinista da maria-fumaça, que transportava o cimento até Erial e voltava trazendo óleo.

Junto à construção da fábrica iniciou-se a construção de uma vila para abrigar os funcionários. Vieram pessoas dos municípios da região e de todo o país, principalmente do Nordeste, para se habilitar ao trabalho. Afinal, precisavam ser contratadas algumas centenas de trabalhadores, registrando-se na época cerca de 400 famílias para atender à demanda da fábrica.

A vila chegou a ter uma população de 2.500 pessoas. Havia uma escola primária onde Vera Lúcia Dias iniciou sua vida profissional como professora no ano de 1972. Relata Vera que Ponte Alta tinha infraestrutura completa, composta de escola, parque infantil, clube, time de futebol, igreja, cooperativa, posto de saúde, farmácia, alojamentos e casas para funcionários de diferentes níveis de atuação na fábrica, inclusive casas para professores. Diz ainda quer havia excelentes bailes na vila e famoso festejo carnavalesco.

Henrique Dro, ex-funcionário da fábrica, conta que passava os dias debaixo dos fornos e cita seus mestres Ariovaldo, Alcides e Virgulino.

Outro mestre de forno que trabalhou até se aposentar foi João Carola, pai de Mara Lúcia Nunes. Solange Oliveira relembra sua infância quando seu pai trabalhava na fábrica.

Maria do Carmo Fernandes, José Gomes, Eliane Hilarino, Lilian Vaz e Celia Maria e Julinha Suriani falam da participação de suas famílias nessa história e das saudades de Ponte Alta.

Fátima Machado relembra a participação das famílias Machado e Lopes no início de tudo. Seu pai, Benedito Machado, atuava na área mecânica de máquinas pesadas. Seus familiares, seu avô Santiago e mais cinco tios ajudaram a construir a história da fábrica de cimento que era a maior empregadora de toda a região.

A diretoria da empresa era composta por Antônio Aymoré Pereira Lima, Augusto Freire de Matos Barretos Filho, Armando Freire de Matos Barreto, Walter Prado Dantas e Arlindo de Carvalho.

A administração de toda a fábrica de cimento, até seu encerramento, ficou sob a responsabilidade do Engenheiro Domício Furtado de Moraes, casado com Nely, e foi em Ponte Alta que ele criou os filhos Ricardo, Leonardo e Katia, conforme relato de seu sobrinho Leonel Borges Lóes.

Por volta de 1975, o controle acionário foi transferido para os empresários das famílias Moraes Barro e Mesquita Vidigal, conforme nos informou José Mousinho, sendo posteriormente incorporada pela LafargeHolcim. De origem francesa, é a maior indústria cimenteira do mundo, presente em 80 países.

Em Ponte Alta, a Lafarge ainda produziu por cerca 18 anos até encerrar as atividades e se transferir, em 2004, para a cidade de Arcos, em Minas Gerais. Os fornos foram adquiridos pela Magnesita S/A, que produz refratários para sua sede em Contagem, Minas Gerais.

Ponte Alta, localizada a cerca de 40 quilômetros de Uberaba, às margens da BR-262, viu sua economia encolher, obrigando uma parte de sua população a se transferir para outras cidades, principalmente Uberaba.

Atualmente, o Distrito de Ponte Alta, criado em 1879, vem se adaptando aos novos tempos, vendendo ou arrendando suas terras para as empresas canavieiras, tendo a Magnesita como importante apoio econômico e diversificando suas atividades rurais em criação de animais.

Por 60 anos, a Fábrica de Cimento Portland Ponte Alta, considerada a produtora do melhor cimento do país, foi o principal suporte da economia de Ponte Alta, que teve, nesse período, um extraordinário desenvolvimento, contribuindo para a economia de Uberaba, através da comercialização de seus produtos, elevação do nível de emprego e arrecadação de seus tributos.

Fontes: José Mousinho Teixeira; Gilberto Magnino; Vera Lúcia Dias; Jornal da Manhã; Arquivo Público de Uberaba; depoimentos diversos citados no texto.

Gilberto de Andrade Rezende

Ex-presidente e Conselheiro da Aciu e do Cigra. Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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