ARTICULISTAS

Eternamente Ecléticos

Ani e Iná
Publicado em 17/12/2022 às 15:36Atualizado em 26/12/2022 às 22:57
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Mau tempo? Nunca existiu para o nosso pai jornalista, João Luís de Sousa, estiloso, irreverente, apreciador das artes, da literatura! Animação não lhe faltava quando saía com sua máquina fotográfica para reportagens do jornal de propriedade familiar, “O Triângulo”, que dirigia e supervisionava, juntamente com irmãos e irmãs!

Outro dia bateu uma saudade do nosso papai!... Que maestria com a pena para descrever os valores das mulheres! O modo de vida delas – cheias de estilo, ousadas e irreverentes – lhe chamava a atenção. Entre elas sua irmã, autêntica e inteligente, tia Iná de Sousa, uma erupção de emoções! Era ícone de sua geração como editora e redatora da revista “Graça e Beleza”.

Embelezavam a capa com As Belas que se destacavam! Ostentava os cabelos curtíssimos, fugia dos padrões de 50. Engajada nas questões políticas e culturais, pioneira na arte de teatro, brilhou no Triângulo Mineiro! Uma jornalista à frente do tempo!

Do lado materno, Heleninha Bittencourt, voz intensa, sedutora, vestia-se de maneira bem característica, com roupas de tonalidades vibrantes, puxava todas as cores para ela, tudo parecia em tons de cinza ao seu redor! Repertório atualizado de compositores brilhantes: Pixinguinha, Noel Rosa, Adoniran Barbosa, Lupicínio Rodrigues, Cartola – estilo musical clássico, malandro, boêmio! Cantava com sensualidade e voz impecável!

Em uma sociedade fragmentada, na qual diferentes realidades coexistem, o “diferente“ sobressai! Não adiantam acusações, preconceitos. Precisamos de menos julgamentos e mais escuta ativa! Em uma época em que imperavam as valsas, polcas e tangos no cenário musical de elite no Brasil, surge Chiquinha Gonzaga, irreverente, que incorporava em suas composições a diversidade encontrada na música das classes mais baixas. Discriminada pela alta sociedade, foi uma mulher extremamente livre para a época! Enfim, queiram ou não, “às favas“ os preconceituosos, Chiquinha Gonzaga brilhou intensamente!

Tarsila do Amaral, de família abastada, ao longo da vida, consagrou-se no campo das artes, articulada, eclética, provocativa!

Voltam à mente lembranças de minha Estrela Maior, irmã gêmea Ani! Essencialmente eclética! Não tinha folga, cursos de todos os tipos, de bolo, artesanato, atualização na área educacional! No nosso papo diário, sorrisos, descobertas, pesquisando, escrevendo, brincando! Trocando de identidade! Ani era sempre convincente e se diversificava numa boa! Ligada nos 220 volts, partiu... só. Não tinha tempo ruim para ela. Para dizer bem a verdade, era ela quem deixava o ambiente feliz, mais preenchido de luz! Destacava-se pela criatividade, liderança, era moderna em ações e atitudes. Eu amava este seu agito! Essa intensa liberdade e coragem... resultado do nosso ego massageado por papai!

Nesta época de Copa do Mundo, ouvimos hinos de vários países! Nenhum supera a emoção do nosso preferido! É só tocar e nos arrepiamos da cabeça aos pés! “Hino do Uberaba Sport Club”! Tão bonito! Entre os “baluartes alvirrubros”, lá estava papai! Um orgulho! À noite, ele levava os seresteiros em casa, rolava a cachaça, boêmia. Nosso irmão Eurípedes e nossa querida mãe amada tocavam violão e cantavam! Papai nos deixou preciosos ensinamentos, valorização do ser humano, apreciação das belezas da vida!

Minha reverência aos irreverentes e eternos ecléticos!

Dois beijos...

Iná e Ani

 

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