ARTICULISTAS

Águas de Uberaba

Em 2 de março de 1820, Dom João VI, majestade do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves...

Paulo Leonardo Vilela Cardoso
Publicado em 29/11/2017 às 21:29Atualizado em 16/12/2022 às 08:41
Compartilhar

Em 2 de março de 1820, Dom João VI, majestade do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, criou, por Decreto, uma freguesia no Distrito de Uberaba, termo originado do tupi, com significado de “água cristalina”, em Minas Gerais, com o nome de “Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba”. Com o crescimento natural, Uberaba foi crescendo rapidamente, transformando-se por atos políticos em Arraial, Vila, até que em 22 de fevereiro de 1836, pela lei mineira nº 28, Uberaba foi elevada à categoria de Município.

Interessante que, em nossa cidade, o estudo topográfico identifica a existência de sete colinas, atualmente chamadas de Altos, onde se encontram os seguintes bairros: Boa Vista (Alto do Boa Vista),  Estados Unidos (Alto dos Estados Unidos), Abadia (Alto da Abadia/Colina da Misericórdia), Leblon (Alto do Barro Preto), São Benedito (Colina da Matriz,  Mercês (Colina Cuiabá) e Fabrício (Alto do Fabrício).

Os altos foram criados em razão do deslocamento das águas dos córregos, fazendo surgir alguns vales, onde hoje se encontram as principais avenidas da cidade, como a avenida Leopoldino de Oliveira, a Santos Dumont, a Guilherme Ferreira e a Fidélis Reis, sendo fácil identificar o córrego da Estação e do Pontilhão, na avenida Fidélis Reis; o córrego Barro Preto, na avenida Guilherme Ferreira; o córrego da Manteiga, na avenida Santos Dumont, e o maior, o córrego Olhos d’Água, que nasce nas proximidades do Conjunto Frei Eugênio e segue até o Mercado Municipal, onde, em diante, deságua no córrego das Lages, que percorre o trecho do Mercado Municipal sentido Univerdecidade até o Rio Uberaba e drena toda a bacia da cidade.

Essa breve história é contada para fazer entender que a nossa cidade, em períodos de chuva intensa, desde os tempos mais remotos, passa por intenso tráfego de águas, que deságuam dos altos até os vãos dos referidos córregos. A região baixa localizada entre as avenidas Guilherme Ferreira, Leopoldino de Oliveira, Fidélis Reis, Santos Dumont e Santa Beatriz, enfim, são as maiores vítimas dos imensos deságues.

Lembro-me, ainda jovem, na década de 80, correr com minha mãe sobre o alto dos móveis de uma panificadora localizada na Praça dos Correios, tamanho era o volume da chuva. Ainda, nos idos de 1996, quando trabalhava no Ministério Público de Minas Gerais, lembro-me de ter autuado inúmeros Procedimentos Administrativos causados por uma gigantesca enchente, que destruiu os veículos que se encontravam estacionados nas avenidas baixas.

Vieram projetos estruturais que melhoraram significativamente a vasão das águas, como o “Água Viva”, através da criação do Piscinão (B. Frei Eugênio), e da criação de dutos de esgoto e vasão de águas pluviais nas principais avenidas. O projeto foi um sucesso, respeita-se muito, porém nada é capaz de parar as ondas de água que descem apressadas das altas colinas até o ponto de confronto principal, as avenidas.

Acredito que os meus netos e bisnetos irão presenciar os mesmos alardes, pois nada é capaz de brecar as forças da natureza, sabe-se bem disso, porém, a nossa inteligência será capaz de criar sistema de monitoramentos capazes de comunicar, em instantes, os sistemas de vigilância e defesa civil da cidade, a ponto de exigir a desocupação imediata das avenidas, o fechamento de lojas e a colocação de tapumes nos vãos das portas.

Enfim, após a reestruturação das avenidas, percebe-se que a prevenção e a vigília são o melhor remédio para evitar o desastre causado pelas tempestades, inclusive a que ocorreu nessa segunda-feira, que jorrou sobre nós 80 milímetros de chuva em minutos, correspondente a 70% do que estava previsto para todo o mês de novembro. Uberaba tem seu nome originado na água e sobre ela viverá!

(*) Uberabense, aqui nascido, criado e pela cidade apaixonado

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por