Em 1979, passei 45 dias trabalhando em Foz do Iguaçu, mais precisamente na Ponte da Amizade...
Em 1979, passei 45 dias trabalhando em Foz do Iguaçu, mais precisamente na Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai. Nessa época os fiscais da Receita Federal revezavam em turmas que lá permaneciam temporariamente exercendo a fiscalização de mercadorias e pessoas que transitavam entre os dois países. Foi um período de grande aprendizado na minha vida, diante de uma realidade totalmente nova para mim.
O Paraguai de então era um país muito pobre, habitado por pessoas cordiais, humildes e amantes da boa música. Eu almoçava ao som de guarânias tocadas em harpa e violão. Apaixonei-me pelo povo paraguaio. E com pesar notei que todas as lojas, bares e restaurantes que frequentei ostentavam nas paredes uma foto bem grande do presidente à época, Alfredo Stroessner, que era reverenciado com um misto de respeito e medo. Ele foi um presidente populista que exerceu sete mandatos consecutivos, de 1958 a 1988, desfrutando do mais longo governo da América Latina no século XX, depois de Fidel Castro em Cuba. Passados 29 anos de sua deposição por um golpe de Estado, o que se vê hoje é um novo país, que cresce a uma média de 6% ao ano. Desde que um empresário assumiu a presidência, em 2013, as coisas começaram a mudar. Apelidado de o Tigre Guarani, o país se desponta e vislumbra um futuro promissor. No Paraguai a energia é bem mais barata que a brasileira, embora a usina de Itaipu tenha sido construída por ambos os países, e o trabalho lá é bem menos oneroso que aqui, já que os encargos trabalhistas e previdenciários representam 35% do salário, enquanto no Brasil somam de 100 a 130%. A tributação é mais baixa que a nossa e as parcerias público-privadas funcionam de verdade. Na querida Ciudad del Este, onde eu caminhava por ruas de terra, as lojas populares foram substituídas pelo luxuoso Shopping Paris, símbolo de prosperidade e pujança. Ainda falta muito para o Paraguai se tornar um país desenvolvido, mas, com toda certeza, ele está no caminho certo.
Só espero que nunca perca a ternura, marca registrada do seu povo, e que possa exportar para nós a lição de que o populismo, o culto à personalidade e a supremacia de um único partido político sobre os demais representam receita a não ser seguida. Um país forte se faz com instituições sólidas, povo atento e gestão eficiente.